Jerzy Skolimowski
Em Deep End existe uma angustiante, seca e crua forma de tratar ou de confundir o amor, o desejo e a obsessão. Crua visualmente, coisa com grão, sem filtros, sem brilho, coisa semi-profissional ou amadora diriam os adoradores do mainstream ou dos blockbusters. Essa crueza (que se faz acompanhar por movimentos de câmara brutais, iluminação e cores idem aspas) está lá para nos mostrar que o mundo não é bonito, é feio, é cru, carrega consigo a perversidade da humanidade. Assim como o mais profundo desejo sexual também o é, cru, angustiante, frenético, obsessivo, coisa que se embrenha na escuridão da alma tão escura quanto a noite que Mike passa ao relento naquela rua do “pecado” à espera que Susan saia daquele clube nocturno. É o negro da noite que nasce na alma de Mike e que o conduz para as trevas da tragédia, o negro da obsessão e do desejo que corrompe a candura de Mike, que o mergulha na demência e na alienação quer individual quer social. É essa caminhada vertiginosa daquela alma cândida em direcção àquele gesto repentino e impulsivo, coisa de segundos, momento final, a queda de um anjo. É a perda da virgindade ou o desejo dela, dessa perda, como símbolo da mutação quer moral quer intelectual do indivíduo ou da formação do indivíduo, é o primeiro contacto com a perversidade do ser humano, com a libertinagem dos adultos (Mike tem apenas 15 anos), é o fascínio e o desejo e a obsessão a confundirem-se com paixão ou amor, é a candura do homem a dissipar-se na bravura e na iniquidade do mundo. Brutal, tragicamente brutal.