溝口 健二 Kenji Mizoguchi
Há dois momentos fundamentais em Yoru no Onnatachi. O primeiro, na noite, negra (e Yoru no Onnatachi traz toda a negrura do mundo, como tudo o resto de Mizoguchi) como as trevas que parecem descer à terra e com elas trazer o destino fatídico daquela mulher, destino esse que se augura ali naquele momento em que o seu bebé, tuberculoso, sucumbe à doença. Momentos antes já a notícia da morte do marido a tombara, a condenara à miséria e ao sofrimento com uma criança tuberculosa para cuidar. E naquele momento pensamos nós que a morte da criança tenha vindo a atenuar o sofrimento e o caos em que a sua vida mergulhara. Enganamo-nos, porque se antes alguma dignidade havia em Fusako, depois da morte da criança fica a dor, a amargura e o vazio que mais tarde, e após a dura realidade e constatação dessa realidade (e da condição da mulher, e da desilusão face aos homens e à conduta destes para com as mulheres), a fazem mergulhar na degradação física e moral da prostituição. O segundo momento, em que a redenção é alcançada, é o final também ele negro como as trevas (novamente as trevas) donde se vai lavrar a redenção (ironicamente) e donde brota a dignidade da mulher ofuscada pelo sofrimento. Brutal, monumental, grandioso…obra-prima.
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