



Synecdoche New York é um filme melancólico, ou melhor dizendo, hiper-melancólico, angustiante, deprimente e existencialista. Philip Seymour Hoffman tem aqui uma das suas melhores interpretações no papel do encenador teatral hipocondríaco, neurótico, inseguro, egocêntrico, deprimente e solitário Caden Cotard.
Synecdoche New York é acima de tudo um filme sobre a inevitabilidade (do tempo, da vida, da morte). E Caden acaba por perceber isso já no leito da velhice e da solidão que abraçara toda a vida. Mas o grande arrependimento de Caden acaba por ser a forma como viveu a vida, como se nem a tivesse vivido (até na forma como constrói e desenvolve a narrativa, Kaufman foi prodigioso, traçando uma narrativa temporal algo confusa e instável (tal como a mente de Caden) onde incorre sobretudo na deterioração daquele homem que acarreta toda aquela realidade do abandono, da angustia e do tormento em que a solidão, a instabilidade emocional e o sentimento de perda o deixou). Por isso, após a viagem de Adele para a Alemanha, só ao fim de algum tempo é que percebemos que aquele tempo em que (deveriam ser semanas) Caden espera pela mulher e filha são afinal anos de solidão e auto-comiseração. Porque Caden tem pena dele próprio, porque a instabilidade mental (a depressão), que a pouco e pouco vai crescendo dentro dele, assim o exige. E por isso os constantes fracassos amorosos. E quando encara a velhice e olha para o passado, ele vê, sobretudo, um vazio na sua vida, o desperdício desta e a decepção por isso, mas vê-o como um lamento. Compreende aí que é um ser humano como os outros. A inevitabilidade do tempo e da morte que se avizinha. A condição humana. Synecdoche New York é um grande filme.
7 comentários:
Por acaso fui alheio ao filme até agora. Nem tão-pouco li muito sobre ele, apesar de saber quem era e é o autor do argumento. Não contava com uma realização à altura. Vou anotar o filme na lista ;)
Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «
Totalmente de acordo. E acrescentaria mais um adjectivo a este filme: "obsessivo".
A (re)ver!
Cumps cinéfilos.
Vi no outro dia, e perfeitamente por acaso, os últimos vinte minutos deste filme. Gostei tanto que de imediato programei a power box para gravar uma das próximas passagens do filme por um dos canais da Zon. Espero vê-lo brevemente e do princípio ao fim.
O Rato Cinéfilo
Roberto, para mim foi uma grande surpresa. Não esperava tanto do filme.
Sam, também, obsessivo também.
Rato, saca da net e vê ;)
Eu costumava pensar que não gostava dos filmes escritos pelo Charlie Kaufman, afinal não gostava era da realização do Spike Jonze. O "Synecdoche New York" é um extraordinário filme sobre a inutilidade da vida e a inevitabilidade da morte, um épico do detalhe, minuciosamente (obsessivamente) construído.
Fiquei encantadíssimo com o filme, quando o vi. Um dos meus favoritos do ano passado. Sinédoque, Nova Iorque não pode ser visto de forma despretensiosa, temos de atentar à linguagem metafísica e metalinguística para a qual o cineasta nos leva. Um filme sobre o medo, a vida e a morte, a ambiguidade e o transcendente. Uma eterna metáfora.
Olha, o outro dia estive na Fnac com o DVD na mão e quase o levei para casa. Acabei por o deixar ficar. Agora vejo que fiz mal :(
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