30 de janeiro de 2010

Tetro (2009)

Tetro é arte para desmitificar o mito. Mas não deixa de ser pretensioso, muito artificial, com muito enredo. Falta mais simplicidade na história, nota-se muita preocupação em provar algo. Sei lá, apesar de toda a mestria da câmara, do ambiente, falta mais simplicidade narrativa. Como já li por aqui, Tetro é demasiado artístico.

29 de janeiro de 2010

Niceland (Population. 1.000.002) (2004)



Qual é o propósito da vida? Não é uma pergunta fácil (já os míticos Monty Python brincaram com esta pergunta). E a resposta a esta questão é certamente aquilo que cada um de nós seres humanos procura. Na verdade, é uma questão subjectiva, pois cada um terá o seu propósito da vida. Mas, mais verdade ainda, tudo se resume à felicidade. Porque, afinal não é isso que todos procuramos? Niceland é uma fábula sobre o amor, sobre a procura da felicidade. Mas o cineasta islandês procura não se cingir a essa questão. Friðriksson tenta criticar a sociedade, o consumismo a que actualmente o ser humano está agarrado. E fá-lo de forma sublime, ligeira. Fá-lo ao criar instabilidades mentais nas personagens. Sabemos, à partida, que Jed e Chloe são deficientes mentais. Autónomos mas mentalmente lentos. Mas o cineasta nunca explora isso. Ele explora sim o ser humano, seja deficiente ou não (a exploração do consumismo e do materialismo social acontece na “catarse” do pai de Jed). Explora e reflecte nas relações pessoais do ser humano, na angústia da tristeza, na amizade. Mas Niceland tinha potencial para ser melhor. Perde-se sobretudo na história, na questão do sentido da vida. E, embora queira e consiga passar essa mensagem de esperança e de determinação, perde-se no fio narrativo, perde-se na construção das personagens, perde-se no mundo próprio e fechado que Friðriksson parece ter criado propositadamente. É pena, porque Niceland poderia ser um grande filme.

Sud Sanaeha (2002)








Primeiro filme que vejo deste tailandês cujo nome é quase impronunciável, Apichatpong Weerasethakul. Primeiramente que tudo, é um filme político. A imigração ilegal é o principal foco do tailandês. A história centra-se em três personagens fulcrais, Min (o tal imigrante birmanês), Roong (a namorada tailandesa) e Orn (uma mulher de meia idade que parece ser tipo protectora de Min). E Weerasethakul apresenta-nos estas três personagens antes dos créditos iniciais (convém referir que só passado 45 minutos é que estes são apresentados – algo inédito penso eu). Mas relativamente ao filme, existe sobretudo um teor político como já referi. Por outro lado, o filme vive duma forte conotação sexual (existe inclusive uma cena explícita onde Roong acaricia o pénis de Min). Roong abandona o trabalho sob o falso pretexto de estar doente e parte juntamente com Min para um local exótico com vista a ter uma tarde de romance e prazer. Orn trai o marido perto do local onde Min e Roong estão. Ou seja, o cineasta tailandês parece-me preocupado em explorar o momento, o prazer humano momentâneo, especialmente o prazer sexual, o clímax do momento. Mas o início do filme explora essa vertente política. Min tem uma doença qualquer da pele (é irrelevante qual), mas o importante é reparar que ele nem fala (a namorada alega que ele tem desde criança dores de garganta que o impossibilitam de falar). E não fala simplesmente para não revelar a sua verdadeira identidade, a nacionalidade. Antes de saírem do médico pedem um atestado de robustez física à médica, mas sem documentos é impossível diz-lhe esta. E onde estão os documentos? Portanto, o tailandês divide, quanto a mim, o filme em duas partes. A primeira parte (os primeiros 45 minutos que antecedem os créditos iniciais) onde ele incide nessa temática política, nessa problemática da imigração. A segunda parte reserva-nos essa exploração do desejo sexual. E aqui, Weerasethakul faz o elo de ligação entre o sexo e a natureza. Porque é no bosque onde os amantes (quer o jovem casal quer Orn e o amante) se entregam ao desejo sexual. E depois temos a beleza naturalista e paisagística do filme, a luz, a claridade. Tenho de descobrir mais profundamente este senhor.

28 de janeiro de 2010

Mystic River (2003)


Ontem revi o Mystic River.
Pois, passou na rtp1 não foi?
Foi. Já lá vai o tempo em que via regularmente filmes na televisão mas ontem por acaso liguei a televisão, estava a dar o filme e aproveitei.
Então, que dizes?
Ó pá, Mystic River é, num âmbito geral, um bom filme. Tem planos interessantíssimos, interpretações de grande nível, tem a nível técnico o que se espera dum mainstream. É bom, coerente, linear. Acima de tudo é um thriller, dramático é certo, mas é um thriller, um filme de detectives.
Sim, mas quanto a mim, Eastwood já fez melhor antes e depois deste Mystic River, não achas?
Concordo, o Unforgiven e os dois filmes sobre a segunda grande guerra são indubitavelmente melhores. Mais profundos, mais moralistas, menos “clichezados” se é que lhe podemos chamar assim.
Exacto.
Mas Clint Eastwood sabe filmar, sabe contar uma história. Isso é irrefutável.
Tens razão. E mais, há algo na condução narrativa, na maneira de filmar, sei lá, há ali algo que Eastwood cria que fica numa linha ténue entre o mainstream e o cinema de autor percebes? Não sei explicar mas, sinto que, embora Eastwood não queira fugir a Hollywood, porque não pode, porque cresceu lá como actor e nasceu como cineasta percebes?, mas sinto que tenta sempre ,e desesperadamente, fugir ao mainstream moderno, ao facilitismo cinematográfico de Hollywood. Eastwood tem uma forte influência em Ford, em Hawks. Isso é claro como a água.
É isso mesmo. Eastwood é da velha escola, da velha guarda. Se Mystic River tivesse sido realizado por outro senhor qualquer de Hollywood seria um blockbuster, seria certamente uma bodega com fins meramente lucrativos não achas?
Completamente.

Izgnanie (2007)













Gostei do filme embora não me tenha encantado tanto como Vozvrashcheniye. Mais uma vez, torna-se claro que a grande referência de Zvyagintsev é Tarkovsky. Na contemplação do espaço principalmente, na vertente naturalista, na busca da fé.
Izgnanie trata da morte, de depressão, da vida, da vida em conjunto, do perdão e da traição, duma hipotética traição. O russo explora sobretudo a destruição do matrimónio. Para isso cria na mulher uma depressão resultante da falta de diálogo, da contínua mudança de postura e comportamento perante esta por parte do homem. Mas Zvyagintsev faz um filme psicológico, enigmático. E o que me agradou mais no filme foi a falta de explicações que este traz, as pequenas respostas relacionadas com a verdadeira natureza dos personagens que permanecem ausentes. Izgnanie é um filme absorto e ambíguo. É irremediavelmente muito bom filme, mas não atinge a genialidade de Vozvrashcheniye.