2 de julho de 2009

Liverpool (2008)

Um filme de Lisandro Alonso









Ora bem, acabei de ver o filme e...

Aparentemente, “Liverpool” é um filme sobre o regresso a casa. O regresso de Farrel (Juan Fernandez), um marinheiro que dada a oportunidade retorna à terra que abandonou há muitos anos. Mas o filme é isto, é o quotidiano, o seu regresso à terra para ver a mãe e a filha que abandonou e por fim a volta ao navio. Ou seja, aparentemente o filme é nada.
Mas erra quem assim pense, ou quem não consiga vislumbrar o que está por detrás desse nada, desse vazio. “Liverpool” é muito mais que isso, é um filme sobre a dor, sobre o arrependimento, sobre os remorsos que visitam o homem. Mas essencialmente, “Liverpool” é a viagem de Farrel, os seus passos, as suas acções, os lugares por onde passa. Aqui não há uma narrativa lógica, não há uma história trágica ou feliz, não há romance, não há nada desses convencionalismos que vemos no cinema. Não, “Liverpool” é Farrel e Farrel é “Liverpool”. Ou seja, Alonso quer filmar uma visita, um último adeus, um respirar mais uma vez na terrinha, um conhecimento do que ficou, do que deixou para trás, ele quer filmar um homem e acompanhá-lo no seu trajecto.
E Lisandro Alonso desenvolve o filme lentamente e opta por um distanciamento da câmara que carrega toda uma vertente naturalista. E as expressões corporais, as pequenas acções do quotidiano ganham aqui relevo importantíssimo para dar ao filme esse aspecto realista. E o mais importante de tudo isto é ver que Alonso nem sequer envereda pela veia moralista, pela tentação de condenar Farrel pelo abandono, pelas suas escolhas. Não, Alonso quer filmar o homem e mais nada.
Isto sim é cinema.

4 comentários:

O Narrador Subjectivo disse...

Quero ver isto ;)

Fernando Ribeiro disse...

Não conhecia mas parece-me ser interessante.

Abraço.

Deckard disse...

conheci muito recentemente alguma da parca filmografia deste realizador. O primeiro filme que vi dele - Los Muertos, mostrava já a simplicidade e a poesia do argumento. A história de um homem contada com poucas palavras e com pouca interacção com os outros. Já se fazia notar o principio da viagem pessoal, que este Liverpool superiormente foca. A fotografia escurecida provoca um impacto dramático ao espectador e ao dar atenção às pequenas coisas faz com que estas falem pelo personagem. Devo, no entanto frizar, que o seu penúltimo filme - Fantasma, me desiludiu bastante e não estava à espera deste retorno. Este é o caminho.

Álvaro Martins disse...

Passenger,
força! :)

Fernando,
muito interessante mesmo. Foi o primeiro filme que vi deste cineasta mas fiquei com vontade de ver mais.

Deckard,
eu foi mesmo o primeiro filme que vi dele, mas gostei muito deste Liverpool. Muito minimalista e sobretudo sem pretensões a filme moralista. É o que é e mais nada. E muito melhor que muita merda que se faz por aí com fama de grandes filmes. E depois é um filme com poucos diálogos, o que só isso me agrada muito mais do que estarem o filme inteiro a falarem e não dizerem nada de jeito.
Mas isto sou eu a desabafar... :)