8 de julho de 2009

4 Luni, 3 Saptamâni Si 2 Zile (2007)

Um filme de Cristian Mungiu














Bom, muito bom mesmo. Qualquer coisa de assombroso, fenomenal. Há muito tempo que não via um filme tão forte, tão bem conseguido. “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” conta-nos a história de um dia. Um dia para esquecer na mente de duas amigas. O tema? O aborto. Mas além disso, Mungiu revela-se-nos moralista, preocupado com a câmara e o ambiente que cria. E é aí que o filme se enaltece. É na revelação de uma amizade que se prova ser verdadeira, que chega ao limite e supera-o. E nesse caso, Anamaria Marinca no papel de Otilia é completamente brilhante.

Mas “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” deixou-me maravilhado pela sua simplicidade narrativa, pelo seu poder de criar um ambiente claustrofóbico numas ruas negras e sombrias que estão em perfeita sintonia com o que se passa dentro do quarto do hotel onde Gabriela (Laura Vasiliu) faz o aborto. E embora essa simplicidade narrativa seja visível, há no entanto que salientar que Mungiu envereda por um cinema minimalista, onde dá importância a pormenores interessantíssimos para o desenvolvimento da fita. O aborto é sem dúvida o tema principal, aquele do qual Mungiu parte para explorar valores morais como a amizade, posições éticas como neste caso o anti-aborto e toda uma vertente sociopolítica que o cineasta desenvolve nas mais variadas situações. A partir de que as duas amigas se encontram no quarto do hotel com o homem que irá fazer o aborto, Mungiu revela-se contra a interrupção voluntária da gravidez ao, por diversas vezes, frisar que Gabriela é a grande culpada pela situação. Foi ela que engravidou e é ela que tem sistematicamente um comportamento irresponsável que cria toda a situação limite que vai por à prova a amizade de Otilia. E se outro cineasta qualquer veria neste argumento uma oportunidade para fazer de Gabriela uma mártir, uma coitadinha que está a sofrer embora tenha errado, o romeno prefere inverter os papéis. É aqui que narrativamente o filme surpreende. Porque na verdade a grande mártir do filme é Otilia, é ela que vai fazer de tudo para ajudar a amiga. E a cena em casa do namorado onde decorrem os anos da mãe deste, essa cena é completamente perturbante pela capacidade tanto do cineasta como da actriz de criarem um ambiente claustrofóbico, pesado e onde é visível a preocupação de Otilia por ter deixado a amiga sozinha. Mas o cineasta romeno explora ainda um factor sociopolítico, o regime soviético. E denuncia o comércio clandestino que até na residência do politécnico existe. A entrada no quarto do hotel tem que ser constantemente autorizada após a entrega do BI querendo assim o romeno mostrar-nos a rigorosa vigilância que existia.

E algo que me deixou espantado mas que surpreendentemente não me fez falta nenhuma foi a ausência de uma banda sonora. Porque todos os silêncios que o filme tem onde a tensão derivada da situação e o ambiente claustrofóbico e sombrio que Mungiu cria são suficientes para nos deixar presos ao ecrã. E o fim do filme, o olhar de Otilia e a surpreendente naturalidade de Gabriela desarmaram-me por completo.

3 comentários:

Dewonny disse...

Olá, tbm adorei esse filme, muito bom, concordo com o seu comentário, o diretor realizou um excelente trabalho sobre um tema tão difícil e polêmico q é o aborto, ótimo filme msm!

Ah, sou novo aqui, fiquei sabendo do seu blog em outros q participo!
Indiquei no meu!

Me visite quando puder: http://www.cinedewonny.blogspot.com
Abs! Diego!

O Narrador Subjectivo disse...

Gostei imenso deste filme, especialmente da forma como fura as expectativas no fim, podia dramatizar em demasia com a morte da amiga, por exemplo, mas o filme é mais maturo que isso, só as põe a jantar num restaurante no fim, é mesmo isso que dizes de não fazer da Gabriela uma mártir. Esta teve a sorte de lhe ter corrido bem. Mas e todas as outras que não tinhas amigas, a quem calhou um abortadeiro incompetente, que morreram com o procedimento? O filme é incrivelmente visceral e real e dá imenso que pensar. Por isso, não sei se o filme apoia ou se é contra o aborto (mas percebo totalmente porque achas que é contra), mas certamente que põe o assunto na cabeça de qualquer pessoa!

Grandes imagens, como sempre, grandes enquadramentos.

Álvaro Martins disse...

É isso mesmo que tu disseste, visceral, mas duma visceralidade mais psicológica e não tanto visual. E real, muito real.