21 de maio de 2025


 

2015, 45 years, Andrew Haigh 


   | o retorno do passado | 


Duas ou três coisinhas sobre 45 years de haigh: o espantoso trabalho de actores que arranca duas interpretações fantásticas, sobretudo a de rampling, assombrosa; a desconstrução de uma memória no seu papel transcendental ao impacto emocional, criadora da dúvida em tempo de celebração – 45 anos de um casamento; a implicação dessa mesma dúvida nas escolhas de uma vida; ora, analisando mais detalhadamente o filme de andrew haigh, que em 2023 faria o espantoso all of us strangers, deparamo-nos com um passado traumatizante para geoff e que, recebida uma carta no inicio, vem abalar os alicerces de uma vida a dois que já leva quarenta e cinco anos; o que se instala e que faz de 45 years um drama familiar psicológico que se transcende em si e ao género, é a dúvida que assombra kate quando o corpo da primeira namorada de geoff é encontrado nos alpes suíços ao fim de 45 anos; mas é naquele final onde na tal celebração geoff discursa e fala nos erros cometidos que o ressentimento paira no ar – e vem-nos logo à cabeça os filhos, a ausência deles, por escolha ou por impossibilidade dela (até porque na noite anterior, numa espécie de desabafo de kate, que sente não conseguir guardar para si o que antes descobre – katya estava grávida antes de cair na tal fissura nos alpes suíços –, se discute se ela foi ou não suficiente para ele naqueles 45 anos) – e ficamos na dúvida se aquilo (não ter filhos) foi escolha dos dois ou impossibilidade dela; independentemente disso, o que haigh quer semear é mesmo a dúvida e a instabilidade emocional que o passado longínquo causa naquela professora primária reformada; muito bom.

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