18 de abril de 2025

 


1934, Little Man, What Now?, Frank Borzage


| borzage, o supremo romântico | 

Borzage foi talvez o mais lírico dos líricos do cinema, o mais idílico e que conseguiu imprimir um romantismo que nunca atravessou a linha que separa o sentimentalismo do melífluo… é, borzage foi isso tudo e talvez só outro frank o tenha igualado nisso, o capra, ainda que ford o tenha conseguido também, mas de outra forma, mais patriótico e mítico (talvez quiet man seja o ford mais aproximado disto que falo dos dois franks), tão humanista quanto eles, é certo, mas nunca tão miraculoso e transcendental quanto borzage (sobretudo borzage) e capra; little man, what now? é mais uma coisa magnífica que mergulha na escuridão e na feiura do mundo para nos mostrar como a força do amor tudo pode, tudo resiste; em borzage tudo é lírico, mas no altar onde a santíssima trindade se encontra uma delas é a moral, engrandece-se a humildade e glorifica-se a paz; em little man as trevas estão ali ao lado, o satanás convive com eles, mas até esse se comove com a pureza do amor, até esse se rende a ele e se redime; é portanto na rota do milagre que little man sempre caminha, imerge na adversidade e emerge dela e volta a imergir sempre à procura do milagre que só o amor o pode conseguir; mas é também as horas negras que assombram o homem e que ameaçam a desgraça que tentam hans, que lhe batem à porta para ver se ele a abre – e naquele momento em que depois de descobrir toda a imoralidade da madrasta pega naquela faca é quando ele esteve mais perto de a abrir; é também em borzage, e nele muito mais que em capra, que a candura dos seus personagens mais encanta, como se ali toda a perversidade da sociedade não entrasse, é essa candura que transcende o romantismo de borzage, a delicadeza e a ternura com que o retrata… como é belo o cinema de borzage!

 

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