1987, Matewan, John Sayles
| carvão vermelho |
Em matewan, filme de mineiros (ou sobre eles) e da luta de classes, longe daquele lirismo e daquele sentimentalismo do ford de how green was my valley, mas próximos do realismo do malick do days of heaven e do pioneirismo do cimino de heaven’s gate ou do huston de sierra madre, o folk é a perfeita sonorização para um filme de época em transição do velho oeste para uma era progressiva.
Op sumptuosa que na sua crueza oscila entre o western e o que se lhe seguiu, estamos ainda naquela américa mítica dos caminhos de ferro, mas também dos xerifes e alguns cavalos, américa profunda ao sul (west virginia), embarcamos nessa transição do velho oeste para o novo onde a máquina capitalista está em seu pleno furor; conjuntura política que definiria o que (ainda) são hoje os estados unidos, falamos do ressurgimento socialista e do apogeu comunista um pouco por todo o mundo, revolução russa, alemã (falhada), na itália seriam esmagados pelo aparecimento do fascismo, é sobretudo bakunin quem é citado por joe, um anarquista a servir de modelo a um sindicalista chamado de vermelho (comunista); é no sindicalismo que o novo vem substituir o velho, ou na luta dele, o sentido pioneiro de todo o filme abarca não só a sua ambiência e o seu espaço como também esse detalhe da temporalidade, que aqui é dual com essa transição - e matewan está no epicentro dessa transição.
Ora, se o velho oeste ainda lá está enraizado em matewan, cidade mineira que à exploração está habituada, quase tudo pertence à companhia mineira, os direitos são trabalhar e calar, a desumanização do trabalhador, é nessa sindicalização que o progresso se faz ver, inclusive na erradicação do racismo que apenas serve como factor divisório do trabalhador, é a luta de classes que é priorizada, os homens dividem-se em dois diz joe: os que trabalham e os que não; é portanto no realismo que matewan se apresenta, no realismo e na luta social num sul ainda a braços com a sua transformação.
A igreja, a fé, isso surge ainda em matewan como catalisador (e prova da conciliação) da luta de classes, como se a fé renovasse as forças (e a clarividência: lembremos o momento em que danny salva joe através da pregação na missa) daqueles trabalhadores ameaçados e escravizados pelo capital, como se ela, a fé, fosse o catalisador dessa resistência pela justeza laboral e social e assim gritasse ao mundo: não, a fé não é inimiga da classe trabalhadora!
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