21 de setembro de 2022


 

Noite Vazia, Walter Hugo Khouri, 1964


Primeiro filme de Khouri que vejo, Noite Vazia é coisa mordaz, sublime, monumental... o filme de Walter Hugo Khouri é, acima de tudo, uma crítica social intimista e negra onde a expressividade e a linguagem corporal - os olhares, sobretudo os olhares - reinam e atestam o brilhantismo de Khouri. Não obstante, é coisa que vai beber ao cinema de Antonioni de forma absurdamente visível, inclusivamente nas escolhas dos actores/actrizes (uma delas parece a Monica Vitti e a outra a Jeanne Moreau) e nos seus comportamentos, gestos, movimentos ou no tema, sendo o La Notte o paralelo mais demonstrado…

Numa noite onde dois amigos levam duas prostitutas para um apartamento, desenrola-se para os nossos olhos toda a vacuidade daquelas vidas, mergulhadas na solidão e na superficialidade das suas rotinas. Noite Vazia é coisa existencial onde aqueles dois amigos representam a classe média alta daquele Brasil dos anos sessenta. Na busca deles pelo prazer do sexo e pela fuga ao rotineiro, quer seja o familiar ou o aventureiro, o que se abre perante os nossos olhos é o intimismo daquelas personagens a mergulhar numa espécie de crise existencial e de superficialidade individual. Existe, de resto, uma ligação entre as emoções das personagens com a cidade, filmada incessantemente por Khouri, como se todo aquele vazio existencial daquela gente fosse uma extensão, ou uma repercussão, do vazio social e geográfico que, não obstante a imensidade populacional, as grandes cidades acarretam. Magnífico!

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