22 de agosto de 2022

 






2021, Un Monde, Laura Wandel



Geralmente pensamos no cinema como a arte de mostrar algo, das imagens em movimento e de como tudo isso nos contam uma história. A obra de estreia de Wandel é coisa preciosa, coisa que imerge no realismo das imagens e da arte de contar uma história. Esse mundo do seu título original revela-se mais complexo e tortuoso que à partida possamos imaginar, mergulhamos na crueldade que existe na infância e no impacto psicológico que daí resulta. O trauma resultante do bullying que atormenta Abel é o mesmo processo traumático que atinge Nora, a irmã, que assiste a isso... na realidade, Un monde é mais Nora que Abel, é mais luta interior de quem vê sofrer do que de quem sofre. A câmara de Wandel segue Nora como a câmara dos Dardenne seguia Rosetta, com uma aproximação absurda aos personagens principais na procura do intimismo e dum tipo de inserção realista no espaço, bem como um enquadramento e um posicionamento dessa câmara sempre ao nível das crianças, criando assim uma distância entre estas e os adultos. Desde o primeiro instante, em que Nora, com as lágrimas no rosto, resiste a ser "largada" no palco que irá preencher a tela durante pouco mais de uma hora, a escola, que o trauma se adivinha. Aos poucos, a frieza e a crueldade das vicissitudes daquele campo de batalha irá afectar emocionalmente e psicologicamente aqueles dois irmãos, o processo traumático desdobra-se desde o instinto de protecção (de parte a parte) até à rejeição e finalmente, no final, à redenção. Ainda que Un monde viva do processo traumático de quem sofre e vê sofrer, da impiedade que por vezes a infância tem, Laura Wandel foge de negruras e ambiências sombrias, como que a querer dizer que, apesar de tudo, a infância é luz! Filmaço.

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