Últimas coisas vistas, entre filmes da Muratova, Bressane e revisões do Stalker, A torinói ló e Madam Satan do DeMille, quatro filmes de Grémillon, portentosas obras, maravilhamento total pelo cinema clássico francês. Lumière d'été, safra de 43, é noir que transpira tragédia desde o início, desde aquela chegada de Michele ao hotel, coisa progressiva que vai revelando a personalidade das personagens, coisa negra que se serve da distância entre as personagens para cavar o fosso de trevas que se vai revelando e crescendo… onde nuns existe amor, noutros há obsessão, caminho demoníaco, as trevas dominam Patrice como no passado já o haviam dominado, o destino afigura-se trágico e aniquilador. Lumière d'été é um portento de filme.
Le ciel est à vous, no ano a seguir, volta a trazer a deslumbrante Madeleine Renaud no papel duma esposa dum ex-piloto e mecânico que se deslumbra e apaixona pela aviação. Fábula emocional, Le ciel est à vous é coisa singela e humana que exalta a mulher.
De 44 saltamos para 51, L’étrange Madame X, filme de enganos e desenganos, de amor e de traição, de ilusão e decepção, de candura e de astúcia. É naqueles dois amantes, um iludido e outro perdido, que se encontra o contraste social, ele operário e pobre, conduzido por um amor idealizado que mal sabe ele não corresponder à realidade, e ela madame rica, perdida nas incertezas e nas mentiras duma vida dupla, a correr contra o tempo que a cerca com os acontecimentos do presente e a pressionam a tomar uma decisão…coisa melancólica.
Por fim, L’amour d’une femme de 53, ultima longa-metragem de Grémillon, assombro total. Tal como L’étrange Madame X, L’amour d’une femme é coisa melancólica, mais ainda até, mergulha na ambiguidade e no confronto dum amor que impõe com a vocação que a preenche.
Os filmes de Grémillon são coisas líricas e melancólicas que atestam a sua grandiosidade.
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