Maidan do Loznitsa (e convém aqui dizer que Loznitsa é dos cineastas contemporâneos que mais me apraz) é coisa bruta em estado puro… cristalino… coisa que recusa análises políticas e julgamentos (ainda que se esteja perante algo notoriamente parcial), só pretende (e executa-o) expor e mostrar os acontecimentos daquele final de 2013 e início de 2014 da praça Maidan em Kiev. Mas é visível que Loznitsa quer (e fá-lo) glorificar a nação ucraniana, a luta contra a opressão e a corrupção e a subserviência do regime de Yanukovitch à Rússia, fala-se e refala-se na glória dos heróis, na dignidade dos homens, da nação… inicia com o hino nacional ucraniano e aquele ambiente festivo para finalizar com aquela canção tradicional e folclórica e o ambiente fúnebre… Maidan tem como protagonista o povo ucraniano e só o povo, num registo documental que foge a todo e qualquer convencionalismo do género (coisa que não é estranha a quem já viu outros documentários do bielorusso), glorifica-o e isso tudo numa constante observação das pessoas na praça… a sua camaradagem, a sua energia e motivação nas manifestações e consequente revolução, o fervilhar do sangue daquelas pessoas… algo histórico estava a acontecer e Loznitsa soube-o bem cedo, como todas aquelas pessoas sabem e tudo fazem para assim ser… a câmara está sempre fixa, planos abertos e distantes pra observar e filmar o povo, só isso, o dia-a-dia daquela praça na revolta daqueles ucranianos cansados do regime… do folclore inicial onde poetas, cantores e tantos outros se passeiam por aquele palco passa-se para o caos das batalhas campais na praça, para a guerra das pessoas em confronto com a polícia, para as chamas e o fogo-de-artifício, as barricadas, a destruição, os mortos e os feridos… o que faz de Maidan mais que um simples documentário sobre uma revolução e um documento histórico é a simplicidade do que Loznitsa quis fazer, mostrar aqueles dias e aquelas pessoas, mostrar como foi, sem entrevistas, sem personagens ou protagonistas, longe de manifestos políticos ou ideais ainda que não seja isento de parcialidade e que os discursos fervescentes e idealistas estejam lá… a glorificação dum povo, dum acontecimento histórico acima de tudo… o renascer do povo ucraniano.
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