“Todake no Kyodai”, filme de 41, Ozu pré-guerra onde ainda não se pensava no sentimento de mudança social e cultural dum Japão dilacerado pelas bombas e pela morte às carradas como vemos no “Higanbana” ou no “Sôshun” ou no “Primavera Tardia” ou noutros tantos que Ozu fez depois da guerra, é a estória do pós-morte do patriarca duma grande e abastada família como todos os seus filmes são pós-qualquer coisa e de como as pessoas têm de lidar com esse pós e com a amargura da vida e o fardo que a velhice e a juventude acarretam. Depois da morte vem o que resta ou quem ficou, neste filme fica a viúva e uma filha mais nova, há sempre um filho que ainda não se casou, que ainda está ligado aos pais e que é também um fardo para os outros, portanto, ela e a mãe irão estorvar os irmãos e as suas famílias. De casa em casa que é como dizer de irmão em irmão ou para o caso da mãe de filho para filha, Ozu imerge na perversidade e na exasperação humana, moralidade das moralidades Ozuianas, mãe é mãe mas parece que os filhos se esquecem disso quando crescem e têm os seus próprios filhos e a sua família, tornam-se intolerantes e incompreensivos, isto é tudo a que Ozu sempre voltou uma e outra vez, sem negruras ou tormentos, só a vida, só o realismo, só as pequenas coisas que nos assombram no quotidiano. São coisas simples e voláteis que percorrem caminhos da serenidade e vertem da candura humana toda a tristeza e toda a melancolia da mudança e das contrariedades da vida, são contos-lamento, brutalidade da implacabilidade da morte mas mais importante, da vida e das coisas da vida, porque se é a morte que tudo causa é também a vida que tudo abrupta e tudo rompe para depois tudo sarar e tudo resolver. Ozu, um dos maiores de sempre.
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