“Angelus” do polaco Lech Majewski, o tal do “O Moinho e a Cruz” que estreou recentemente cá por terras lusas, é coisa repleta de luz e de cor, sátira alegórica e poética ao totalitarismo, coisa próxima, esteticamente, ao cinema rudimentar, simbólico e ritual de Parajanov, coisa arreigada num absurdismo similar ao de Veit Helmer ou ao do seu compatriota Piotr Szulkin ou até (este mais conhecido) ao de Kusturica, coisa paradoxal e excêntrica, metafísica e corrosiva, catastrófica, é uma alegoria cómica e mordaz da história polaca dos últimos cinquenta anos, caricaturas de Hitler e Stalin, coisa enraízada na pintura como arte de expressão e de protesto, ritos e crenças e alquimias numa estória arcaica e fantasiosa sobre a repressão e sobre a espiritualidade como recurso à crua realidade.
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