Deus…
Talvez, e este talvez tem muita força, “God's Little Acre” seja o filme mais religioso de Mann e onde essa religiosidade abrupta oscila entre a ganância ao ouro e o desejo da paz familiar… obsessão de Mann que brota e rompe daquela propriedade repleta de buracos numa das mais hilariantes temáticas de Mann, coisa que só pretexta para filmar a instabilidade familiar e aqui é mais que isso já que toda aquela família parece saída do asilo mais tresloucado do mundo, são coisas intempestivas e irascibilidades que irrompem e brutalmente atordoam e abalam o seio familiar (seja ele qual for) para num caos o tornar. É aí que Ty Ty, o pai, se destaca ainda que a sua loucura seja a maior de todas pois ele é o tal que cava buracos à 15 anos em busca do ouro que supostamente o avô escondeu ali, ele é o tal que rapta o albino lá do sítio porque Pluto, o candidato a xerife (um “brutote” que gosta da filha mais nova), lhe diz que os albinos têm o poder de encontrar coisas. No entanto, no meio de toda aquela demência e absurdismo familiar, ele (o patriarca) tudo faz e tudo promete para não desagradar a Deus, volátil como as horas mais desesperadoras do homem em que tudo lhe passa pela mente, vai mudando o seu god’s little acre, que é como dizer o seu pequeno campo de Deus (ora, esclarecendo, é uma parte da sua propriedade - da do patriarca (grandiosa interpretação de Robert Ryan) - que foi por si oferecida ou jurada a Deus juntamente com tudo o que lá nascer), conforme lhe convém sempre com o ouro em mente, são credos e utopias e loucuras e cegueiras e coisas mais fortes que o homem...
Obsessões…
Das loucuras insanas do patriarca sedento de ouro imergimos na disfuncionalidade e na invulgaridade da família, traições e insinuações sexuais, irascibilidades e ímpetos constantes em que o pai tenta a todo custo sarar. Nota-se, como se notará mais tarde que o ouro a Deus pertence, que da negrura incessante e da impetuosidade constante de Buck para com a mulher e da agrura também constante de Bill não só pelo fecho do moinho como pelo seu desejo por Griselda (a mulher de Buck) algo trágico irá surgir e colmatar ou ofuscar toda a ideia e toda a obsessão pelo ouro. Ainda assim, e com o filme caminhando sempre para essa tragicidade adivinhada, “God's Little Acre” é no seu fundo uma comédia bucólica e psicológica (como a tudo o que é de Mann) onde reina a loucura e a sexualidade e a letargia e as obsessões e erraticidades quer amorosas quer religiosas.
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