Do classicismo à efabulação
Primeiro ponto, e ponto essencial, “Le Havre” de Kaurismäki é para quem gosta de Kaurismäki, porque por mais que digam que o cinema do finlandês corre o risco de incorrer num “martelamento” ou num “ciclo repetitivo” ou coisa parecida (como o do Kusturica ou do Woody Allen ou doutros tantos), quem gosta de Kaurismäki gosta e ponto final, que é como quem diz: quais maneirismos ou quais “marcas de autor” que já aborrecem qual caralho! Até porque, ao mais fraco de Kaurismäki (não é o caso deste, bem pelo contrário) oponho o melhor de muito cineasta em voga lá por Hollywwood.
Segundo: em “Le Havre” temos um irromper de cores, de luz e de vivacidade que contrasta com a típica frieza e apatia dos personagens do cinema de Kaurismäki, bem como o tema melodramático que a isso também foge. Tudo a lembrar o velho technicolor sim, mas tudo numa veia classicista esplêndida como que a querer sempre lembrar que aquilo é cinema, tudo perfeito nos planos e nos enquadramentos e nos movimentos e no tempo disso tudo (como naquela cena da carrinha em que Marcel vai agarrado a Arletty a caminho do hospital), tudo simplesmente deslumbrante numa fábula cheia de luz e de cor para nos dizer que o mundo é belo e que ainda há humanidade e esperança no ser humano.
1 comentário:
Concordo de pleno e estou a achar que é um dos melhores filmes a que vi nos últimos meses.
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