13 de março de 2012

O fantasma da morte

“Kuroi Ame” de Shohei Imamura conta-nos o percurso duma família no pós-bomba de Hiroshima. Tudo anuncia a morte, tudo alude ao trauma e aos efeitos da bomba, o que ficou e como ficou. Implacável filme que reclama vida e paz, mesmo que a morte esteja sempre ali presente, mesmo que tudo seja negro como a chuva que cai depois da tragédia e que dá título ao filme. Se há coisa que o filme de Imamura faz é trazer uma certa candura e um certo lamento pelas vidas afectadas pela bomba, a contaminação lenta e continuada daquelas pessoas tocadas pela radioactividade da bomba que vai desmoronando não só aquelas vidas como aquelas paisagens, o negro da chuva que a pouco e pouco vai escurecendo aquele local e tudo o que o integra e rodeia. Por isso torna-se quase irrisório todo o esforço feito por aquele tio (em vão) em arranjar marido para Yasuko, porque tudo o que Imamura faz é assombrar o ser humano, aquele ser humano afectado pela bomba (não só aquela família mas quase toda aquela comunidade), pelo passado traumático que teima (e não há como se dissolver) em deter aquelas gentes numa espécie de clausura claustrofóbica e caótica que condiciona e sentencia o personagem (ou os personagens) para esse ambiente traumático e desolador que envolve todo o filme (voz-off incluída) e para o fantasma da morte deixado pela explosão da bomba.