12 de setembro de 2011

O Biutiful do Iñárritu é um filme catarse, mesmo com todos os facilitismos a foder a premissa do filme, mesmo com todas as choradeiras lamechices e planos à la intelectual de Hollywood a querer explorar o sentimento ou o abstracto ou a luta interior do moribundo, mesmo com histórias paralelas de merda para preencher papel, mesmo com todos os clichés e embelezamentos e sensacionalismos e toda a merda acabada em ismos para fazer render (ai os dólares!) a coisa, mesmo com tudo isso o filme chega lá, à catarse, depois de muita reflexão (ou a tentativa) da morte, depois de tanto sadismo para fazer sofrer tudo e todos (espectador sobretudo), é claro que não deixa ninguém indiferente, a isso apela desde o início (explora-o até ao tutano), a melancolia e a morte estão ali sempre presentes, mais que a morte a preocupação em deixar os filhos com uma mãe bipolar e puta e por aí fora. No final o semblante duro e fechado (de fortaleza) de Bardem transforma-se nas lágrimas agarrado à filha, a rogar para esta nunca o esquecer, porque ele sabe-o bem que a ausência traz o esquecimento, custa-lhe tanto deixar a vida. E a mim custa-me que isto tenha sido realizado por esse Iñárritu, porque em vez dez dum bom ou dum grande filme temos uma premissa mal explorada, oportunista como disse o Luís M. Oliveira. Enfim...uma porcaria.

4 comentários:

Carlos Natálio disse...

É que há gente que ainda não percebeu que a verdadeira emoção do espectador com dois dedos de testa não está necessariamente no choradinho, na morte, na aflição e o raio. Está onde ela bem quiser. E isso é lixado para uma indústria que vive de programar sentimentos.

Enaldo Soares disse...

Estamos em total acordo.

João Palhares disse...

O Iñarritu é a meta da decadência mental. hehe

Jorge Rodrigues disse...

Engraçado que quando cá venho espreitar o estaminé tu me falas de um filme que me tem passado pela cabeça, sempre. Curioso.

Bem, resta-me dizer que eu concordo muito com o que todo o pessoal cá disse. Que o Innaritú aprendeu a explorar o miserabilismo que já tinha tornado perfeito em 'Amores Perros' e aproveita-se disso em todos os filmes que faz.

Que o 'Babel' é dos filmes mais empobrecidos dele, uma versão mais mainstream, Hollywoodesca vá do seu género cinematográfico para conseguir nomeações para Blanchett e Pitt (correu-lhes mal a eles e bem a Innaritu e às duas secundárias, Kikuchi e Barraza que são quem salva o filme da mediocridade).

E finalmente ressalvaste o meu principal problema com o Biutiful. É um filme que pauta pelo sensacionalismo, pelo choque e que entra num turbilhão depressivo do qual nunca mais sai e nele se entranha mais e que eu só consigo compreender ter dois propósitos: ou enojar de vez as pessoas na sala de cinema (que foi o que me aconteceu mais que uma vez) ou obrigá-las mesmo a sair da sala.

Não percebo a necessidade de algumas coisas que se passaram naquele filme, mas enfim, não sou eu o realizador, é ele.

Acho que o Javier Bardem tem uma interpretação espectacular - o que também não é difícil, sendo que a miséria, a doença e o pai que luta pelas filhas até ao fim temas habituais nas grandes interpretações masculinas dos últimos anos.

De qualquer forma, há gente que gostou imenso do filme (o João, do meu blogue, é um deles) e eu consigo perceber porquê. Eu só não consigo partilhar da opinião deles.


Cumprimentos,

Jorge Rodrigues
- DPFP