6 de setembro de 2011

Beed-e Majnoon (2005)
Majid Majidi

Tema reincidente na obra de Majidi, Beed-e Majnoon trata da invisualidade (depois de Rang-e Khoda) e do ganho da visão. O cinema de Majidi é sobretudo humano, pleno de compaixão, sentimentalismo e fé pelo ser humano e por Deus, mergulha no realismo e na crueza do espaço inserido para falar de problemáticas sociais e familiares, sonhos, medos e conflitos interiores. Na verdade, tanto este como Rang-e Khoda têm uma forte ligação ao divino, à fé (antes dos créditos iniciais vemos escrito em letras bem grandes “Em Nome de Deus”), são como que “filmes-irmãos”. E é aí, na fé, que reside todo o lirismo do cinema do iraniano, na fé não só em Deus como no ser humano (e tanto em Rang-e Khoda como aqui traz-nos uma certa desumanização do homem para no fim alcançar a redenção).

Beed-e Majnoon fala-nos de um cego de quarenta e poucos anos que depois de uma queda se desloca a Paris para fazer uns exames. Descoberto um tumor benigno no olho direito fazem-lhe a operação e nesse entretanto descobrem que os olhos reagem à luz. Conclusão, outra operação e Youssef fica a ver. A partir daí, Majid (ainda que traga todo o sentimentalismo que todos os seus filmes têm) constrói a complexidade dum homem novo, dum homem que após trinta e tal anos sem ver ganha uma nova visão do mundo (no início Youssef chamava ao seu lar e à sua família “o pequeno paraíso”, coisa que depois rejeita), novos desejos. Beed-e Majnoon é uma fábula, algo que nos diz que só temos uma oportunidade na vida e que a devemos aproveitar, algo que nos diz que às vezes é preferível ser cego, viver na escuridão como diz Youssef. Ainda que ele demonstre sempre essa fé, há em Youssef, depois de recuperar a visão, uma tentativa de recuperar também o tempo perdido, de construir uma nova vida longe daqueles que sempre o amaram e a quem lhes deve tanto (e de esquecer o passado, de o apagar até), uma ganância que aos olhos de Majidi se revela como uma ingratidão para com Deus (a oportunidade de voltar a ver foi-lhe dada por Deus após rogo de Youssef), e por isso aquele final em que ele vai buscar outra vez o livro e alcança a redenção. Por isso, e além de todo o humanismo e de toda a fé presente, Beed-e Majnoon é um filme sobre a ingratidão e sobre como as pessoas só se lembram de Deus quando precisam dele. O lirismo e a fé de Majidi.

2 comentários:

Enaldo Soares disse...

Se quando ateu era cego e passou a ver somente com a ajuda de Deus, ou quando passou a ter fé, se o filme tem este mote, dificilmente será do meu agrado.

Um abraço.

Álvaro Martins disse...

Nada disso Enaldo. Vê o filme, ou melhor, descobre Majidi :)