5 de setembro de 2011

早春 Sôshun (1956)
小津 安二郎 Yasujiro Ozu

Ozu, o cineasta do quotidiano, da beleza da simplicidade, dos pequenos gestos e das suas compreensões, dos erros e da aprendizagem da vida. Ozu, o cineasta da sinceridade, porque o seu cinema é o mais sincero de todos, o mais leal à vida, à semântica da vida (o que quer que seja que isso signifique), coisa mundana, coisa que irrompe da realidade e das pequenas (grandes) questões da vida.

Ozu, o cineasta da serenidade, nada no cinema se compara a esta serenidade, ainda que toda ela se veja envolta pela azáfama da vida, pelos problemas da realidade, do dia-a-dia, ainda que em todos eles (os seus filmes) brote ou a tragédia ou a traição ou a velhice ou o desemprego ou qualquer outra coisa que advém do realismo e das suas contrariedades. Ozu, o cineasta do optimismo, da transcendência da vida e do seu valor, do humano, da dádiva que é uma vida. Ozu, o mestre japonês.

Sôshun, filme do recomeço, dos erros e do perdão. Monumental. O filme em que Ozu faz dois movimentos de câmara, naquele corredor da empresa, sempre com destino à porta do escritório de Shoji, o filme em que mais do que nunca Ozu faz uma crítica social, em que o modo de vida do pós-guerra é posto em causa, o filme em que mais do que nunca Ozu se preocupa com as relações conjugais, aqui as dos funcionários, em como tudo isso traz o tédio, a insatisfação e a alienação dessas relações. Sôshun é o filme em que Ozu tira os jovens de casa, dá-lhes emprego e uma vida familiar autónoma, longe dos pais, o começo da sua família, é o filme em que a melancolia da separação dá lugar à melancolia social e laboral que afecta a conjugal/familiar, os erros daqueles jovens inexperientes que restaram da guerra, o recomeço e a remissão. A vida, nada mais que a vida.

5 comentários:

Pedro Teixeira disse...

Tenho mesmo de descobrir Ozu :P.. e já agora também, Mizoguchi. Eu sei, eu sei grande falha minha lol. Brevemente espero puder ver filmes deles.

Aconselhas algum filme em especial para começar?

Abraço

Álvaro Martins disse...

Sei lá, do Ozu podes começar pelo Bom Dia, por exemplo, de Mizoguchi o Ugetsu Monogatari, mas o que interessa é que comeces eheh

João Palhares disse...

A serenidade e a rotina. Tenho para mim que os últimos Oliveiras são muito parecidos com os últimos Ozus.. para dizer coisas diferentes, claro, mas a rotina, a calmia e a passagem do tempo.. Há muito mais Ozu que Buñuel nos filmes dele, que é o cineasta que se cita sempre, não sei porquê..

Já agora, o último do homem dos 102 anos é um assombro de filme...

Ainda não vi este Sôshun, vou ver se trato disso..

Pedro Teixeira disse...

OK obg a sugestão :)
Um dia destes vejo um filme destes eheh

Álvaro Martins disse...

Ainda não vi os últimos do Oliveira, ando bastante desactualizado em relação ao "velhote" eheh mas um dia destes, com tempo e disposição trato disso, aliás, eu tenho para aqui quase tudo dele, falta é vê-los :)

Em relação ao Ozu é isso mesmo, a rotina ou o quotidiano e a serenidade são os principais elementos que caracterizam o seu cinema. E a passagem do tempo vem intrinsecamente com a insistente disparidade de gerações que Ozu analisa, parece-me, a preocupação no pós-guerra (isto principalmente nos últimos Ozus), no "levantamento" do Japão após a destruição também está muito ligada a isso.
Quantos mais filmes de Ozu vejo mais fascinado fico pela simplicidade e pela beleza de tudo, dos planos, dos enquadramentos, da tal serenidade, sei lá, até me faltam palavras.