10 de novembro de 2009

Μια αιωνιότητα και μια μέρα - A Eternidade e Um Dia (1998)

Um filme de Theo Angelopoulos











Há algo de comum em quase todas as obras de Angelopoulos, a viagem. Mas sobretudo a última viagem, a derradeira. E o grego gosta de fugir à linearidade para contar essa viagem. Raramente recorre a qualquer tipo de linearidade. O tempo, o espaço. O cinema de Theo Angelopoulos é essencialmente contínuo nessa viagem mas interrompido no tempo e no espaço. E isso define o cineasta, define o seu cinema. Mais que um lírico, Angelopoulos é nostálgico. Nostálgico na História, na poesia. O cinema de Angelopoulos é acima de tudo uma retrospectiva da vida. E é a forma como o cineasta a retracta que faz dele um grande cineasta. E se repararmos bem, o cinema do grego é feito de momentos, momentos que marcaram o protagonista, momentos nostálgicos, momentos que surgem nessa viagem. E a viagem é feita tanto no espaço como no tempo, intemporal. Mas o cinema de Angelopoulos é um cinema poético, lírico e acima de tudo nacionalista. A linguagem é grega em todos os sentidos. Não falo somente de “A Eternidade e Um Dia”, mas também de “Paisagem na Neblina”, “O Olhar de Ulisses”, “O Megalexandros”…. Porque em todas as obras que vi até agora do grego está lá a procura das memórias, a viagem em busca de algo. E “A Eternidade e Um Dia” é um filme melancólico como o é “Paisagem na Neblina” e “O Olhar de Ulisses”. Poético e melancólico num olhar reflexivo e introspectivo sobre o arrependimento. E aqui a viagem que Angelopoulos faz é essa, a viagem ao passado, às memórias. E é sobretudo o arrependimento que faz o poeta embarcar nessa viagem existencialista, na procura de respostas às questões de Anna, nessa melancolia das memórias que lhe lançam a estranha descoberta de que nunca aprendeu a amar. E esse último dia, o derradeiro, é também a eternidade. A eternidade encontrada no passado visitado pelo poeta, nas memórias, nos momentos, na nostalgia. E aqui Angelopoulos invoca Sartre que dizia “é porque eu sou o meu passado que ele entra no mundo”. Porque o poeta navega entre o passado e o presente constantemente como que a tentar consertar os erros do passado. E a dada altura até o menino vê o comprador de palavras. A eternidade num dia, o poeta lírico e arrependido a viver o último dia. Brilhante Angelopoulos.

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