30 de abril de 2009

Cum mi-am petrecut sfarsitul lumii / Como eu Festejei o Fim do Mundo (2006)

Um filme de Catalin Mitulescu










Sublime. É realmente sublime a forma de Catalin Mitulescu nos contar uma história sobre a transição da adolescência para a fase adulta. E Doroteea Petre é linda e transporta para o ecrã toda essa beleza, essa sensualidade duma adolescente que sonha em viver num país livre. O tempo é o da ditadura de Nicolau Ceaucescu e o espaço é uma pequena localidade na Roménia. Minimalista, esta obra trata de esperança. Esperança na liberdade, esperança no “fim do mundo”. O título nem podia ser mais apropriado, “Como Eu Festejei o Fim do Mundo”. Em sentido figurativo, esse fim do mundo refere-se, naturalmente, ao fim da ditadura, ao fim dessa repressão política e social em que a Roménia esteve mergulhada. Mas Mitulescu não faz um filme político, a queda do ditador é assistida pela televisão de forma algo confusa. “Cum mi-am petrecut sfarsitul lumii” é sobretudo uma reflexão ao quotidiano duma classe média social dum país ditatorial, um olhar pelos sonhos de uma adolescente que cheia de revolta interior se divide entre o amor e essa ilusão de fugir dessa repressão e uma abordagem do mundo fantasista em que uma criança confusa vive, confrontada com a possível perda da irmã.

Os grandes vencedores






Terminou no último sábado, dia 25 de Abril, o Festival Black & White que se realizou na Universidade Católica Portuguesa. Na sessão de encerramento, o júri deu a conhecer os vencedores desta sexta edição do Festival. Portugal foi o país que mais prémios arrebatou, quatro ao todo. Alemanha e Espanha seguiram-se com três galardões cada. Mas foi da Alemanha que surgiu uma surpreendente curta-metragem de Daniela Abke que dá pelo nome de Tomorrow – Yeah!. O filme ganhou não só o “Grande Prémio do Festival”, como venceu também o galardão de “Melhor Vídeo Documentário”. Para quem estiver interessado em dar uma vista de olhos numa pequena apresentação da obra, basta clicar aqui.

Aqui fica a lista dos grandes vencedores:

Grande Prémio Ibertelco / Sony
"Tomorrow - yeah!"
Daniela Abke, Alemanha.

Melhor Vídeo Ficção
"Corrente"
Rodrigo Areias, Portugal.

Melhor Vídeo Documentário
"Tomorrow - yeah!"
Daniela Abke, Alemanha.

Melhor Vídeo Experimental
"The Wind"
J. Tobias Anderson, Suécia.

Melhor Vídeo Animação
"Spegelbarn"
Eric Rosenlund, Suécia.

Melhor Peça Sonora
"Castalie"
Gilles Gobeil, Alemanha.

Menção Honrosa Fotografia
"Sinto que estou a ser observado"
Alexandre Rola, Portugal.

Menção Honrosa Vídeo Experimental
"Alone"
Gerard Ribera, Espanha.

Menção Honrosa Vídeo Musical
"The Wild Range"
Marco Marchesi, Itália.

Menção Honrosa Vídeo Documentário
"Keidas"
P.V. Lehtinen, Finlândia.

Menção Honrosa Vídeo Ficção
"The Attack of the Robots from Nebula 5"
Chema Garcia Ibarra, Espanha.

Prémio do Público Ibertelco / Sony
"The Attack of the Robots from Nebula 5"
Chema Garcia Ibarra, Espanha.

Prémio do Público Universidade Católica Portuguesa
"Retrato da minha mãe"
C. Mariana Baldaia, Portugal.

Prémio do Público Yamaha Música
"Código de barras"
Duarte Dinis Silva, Portugal.

O júri desta sexta edição foi composto por José Maçãs de Carvalho, Paulo Ferreira-Lopes, Rui Xavier, Victor Asliuk e Waltrud Grausgruber. No próximo ano, o Festival irá decorrer entre 21 e 24 de Abril.

29 de abril de 2009

Doctor Zhivago (1965)

Um filme de David Lean













Sempre pensei em David Lean como o mestre dos épicos, um cineasta com uma capacidade enorme de criar maravilhosas obras heróicas, sublimes. “Doctor Zhivago” trazia a árdua tarefa de preceder a outros dois grandiosos épicos de Lean, “The Bridge On The River Kwai” e “Lawrence of Arabia”. Qualquer cinéfilo que se preze já deve ter visto pelo menos uma vez este clássico esplendoroso de David Lean, pelo que não me vou alongar. Quero principalmente frisar que já não se fazem épicos desta qualidade, desta beleza. Uma história de amor em tempo de guerra sem cair na lamechice a que hoje em dia estamos habituados a ver nas grandes produções. Mas “Doctor Zhivago” não se cinge a contar uma história de amor, faz-nos sobretudo reflectir na vida, nas escolhas que fazemos, nos chamados “os acasos da vida”. Acho que David Lean reflecte sobretudo no destino, no “que tinha de ser”. “Doctor Zhivago” transporta teor histórico com a Revolução Russa, ficção com um conto de amor e uma reflexão inerente a toda a obra de Pasternak. É sem dúvida uma obra-prima este clássico de David Lean.

28 de abril de 2009

Au Revoir Les Enfants (1987)

Um filme de Louis Malle












“Au Revoir Les Enfants” é o filme mais pessoal de Malle. Baseado na sua infância, esta obra é principalmente uma história sobre a amizade. Uma amizade entre dois garotos numa França em plena ocupação nazi duma Segunda Guerra Mundial que serve de base para Malle reflectir nessa amizade, na perda da inocência, na coragem, na cobardia e no anti-semitismo. Malle reflecte ainda na moralidade do ser humano quando na cena do restaurante os guardas franceses ao serviço das tropas alemãs tentam prender um velho judeu. Malle cria nessa cena uma ambiguidade moral ao filmar os vários juízos das pessoas ali presentes. Mas Malle não é de todo pessimista. Eu diria que “Au Revoir Les Enfants” é essencialmente nostálgico.

Russian Ark (2002)

Um filme de Aleksandr Sokurov









Sokurov fez de facto um filme imponente e visualmente arrebatador. “Russian Ark” é à partida um produto experimental do cineasta russo. Filmado em câmara digital, o filme foi feito num só dia num único plano contínuo de uma hora e meia sensivelmente. Com uma mise-en-scène virtuosíssima, “Russian Ark” transporta sobretudo conteúdo histórico, cultural e arte, muita arte. Sokurov cria uma viagem entre o espaço e o tempo pelas maravilhosas e longas divisões do Museu Hermitage em São Petersburgo, onde ele próprio como narrador que somente ouvimos e Adolphe de Custine, um marquês francês do séc. XIX, vagueiam pelas divisões do museu admirando os quadros históricos, presenciando momentos de figuras como Pedro O Grande, Catarina II, Nicolau I, Nicolau II, Alexandra, Anastasia…., tendo depois o auge num enorme salão onde, com um vasto número de figurantes, é palco de um baile conduzido por uma magnificente orquestra e terminando com a saída dessas centenas de figurantes pela Grande Escadaria do Palácio.
O grande trunfo da obra é claramente esse aspecto visual e musical que é completamente maravilhoso. É compreensível que não seja apreciado por bastantes cinéfilos, pois trata-se de um filme sobretudo cultural, histórico e com uma narrativa lenta. Contudo, para mim, e não sendo a melhor obra de Sokurov, é um exemplo daquilo que me agrada ver em cinema.


27 de abril de 2009

Brasileirinho (2005)


Antes de surgir a Bossanova e a Música Popular Brasileira criou-se o Choro, um estilo de música que misturou os sons europeus e africanos e que é considerado a primeira música popular urbana típica do Brasil.
Mika Kaurismäki, irmão mais velho doutro conceituado nome do circuito cinematográfico finlândes, Aki Kaurismäki, realizou em 2005 um documentário sobre esse estilo musical brasileiro que faz lembrar o Jazz. Não há muito para dizer sobre este filme para além de referir o prazer que me deu ouvir tocar verdadeiros mestres do Choro. Desde cavaquinho, viola, viola de sete cordas, pandeireta, flauta, clarinete, saxofone, trompete, o Choro é música elaborada que prima sobretudo pela arte do improviso e não só. Confesso que sou um admirador da música brasileira em geral, com especial incidência para a Bossanova e este Choro, mas Mika Kaurismäki filma com grande fervor vários momentos fantásticos do Choro. O Trio Madeira Brasil é o grupo anfitrião do filme que nos vai mostrar os grandes nomes actuais do Choro e as suas várias interpretações das músicas mais tradicionais e populares do Choro.
É claro que o interesse para quem goste destes estilos de música é muito maior do que para aqueles que não, mas é um documentário com grande qualidade e muito esclarecedor do que é a cultura musical brasileira.