22 de novembro de 2012


Na imensidão da luz e da lírica progressão narrativa na qual Ford se embrenha em quase todos os seus filmes, é cedo que se percebe que “Pilgrimage” é coisa tão plena e tão cheia de romantismo tanto quanto a mais arrebatadora história de amor, coisa que transborda tanto amor e tanto obscurantismo que desse amor brota, cedo é, também, que pressentimos que a coisa caminha a passos largos e galopantes para uma tragédia onde toda a culpa e toda a remissão virão abalar e, logo, acalentar a alma daquela mãe fria e “obsoleta” que embrenhada nas sombras e nas trevas vindas dum dos maiores dos egoísmos e dos ciúmes possíveis na história do cinema que o amor tornado obsessão tanto assusta. No espaço e no tempo se maneja tudo, como naquele quadro inicial em que Hannah e Jim nos são apresentados envoltos numa espécie de névoa e de aura fantasmática, como tudo do espaço e do tempo virá aquilo que do que foi se assemelhará. Lição das lições: só nos outros ou na vida dos outros se aprenderão, vistas de fora e não de dentro, daí resulta a remissão que ela abraçará no momento final em que a angústia e o tormento e o maior dos maiores dos arrependimentos não se aguentam mais. É na luz que o rosto dessa mãe, que atira o seu único e amado filho para a morte por causa da cegueira do ciúme e da possessividade, se mostra tão frio e tão assustador, momento final – de remissão e aceitação do que causou e do que ficou – a luz tudo mostra para se ver que aquele rosto fantasmagórico e assustador se transformou num doce e feérico e acalentador que tudo fará para que a culpa e o arrependimento não a consumam mais. “Pilgrimage”, filme-família como tantos outros de Ford, filme da luz e das trevas, do amor e do ódio, da culpa e da remissão, da obsessão e da possessão...

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