14 de março de 2010

Twentynine Palms (2003)













Twentynine Palms é um filme cru. Mas cru já o era L’Humanité. O cinema de Dumont é por natureza cru, mas Twentynine Palms ultrapassa L’Humanité em quase tudo. O vazio está lá outra vez, mas outro tipo de vazio, o vazio oposto, um vazio mergulhado na natureza, na liberdade, no sexo. Mas o poder de Twentynine Palms revela-se no fim. E este fim é dos mais perturbadores que já vi em cinema. É dos mais duros, frios, cruéis que já vi num filme. E os planos de Dumont, o enquadramento da câmara, o distanciamento da câmara, os planos longos, tudo. Obra-prima.

14 comentários:

Diogo disse...

Percebes agora o que é «filmar o nada»? Percebes a analogia com a porra do... Gerry? O Gerry não tem nenhum fundamento, tu não entras na vida daquelas papoilas perdidas no deserto, porque eles não têm vida. É mais um daqueles filmes «sobre a amizade», mas em modo avant-garde. Eu já sei o que é a amizade, o Van Sant não precisa de dizer o que toda a gente já sabe. O Gerry é isso, o que toda a gente já sabe... Entre muitos outros aspectos que não vou estar para aqui a analisar, não é o local apropriado.

O Twentynine Palms é uma lição de como filmar o nada e ter lá tudo, deixa-te cheio de perguntas, de onde vem... (como aliás é o cinema do Dumont, também professor de filisofia) e sim, o final é mesmo viril, fortíssimo. Quanto à cinematografia... lindíssimo, com o espaço certo para o silêncio, a comunhão com a natureza e o instinto, o irracional, a vida a flutuar longe de inflamações.

Álvaro Martins disse...

Diogo, Gerry não é um filme sobre a amizade, Gerry é um filme sobre a sobrevivência, sobre a reacção humana a situações-limite. Depois é extremamente bem filmado.
Quanto ao Twentynine Palms, ainda estou a digerir o filme :) Tenho que refazer a minha lista dos melhores filmes da década de 2000 ;)

Diogo disse...

É por isso que «sobre a amizade» está entre parênteses... é filme sobre nada que não vai dar a lugar nenhum. A reacção é relativa, situação-limite tanto pode ser uma naifa no teu pescoço como um salto de bungee-jumping (tudo mais original do que ir para um deserto, em que as premissas são básicas). O Gerry é um ermo com pretensões de pensar. E não o acho bem filmado, é aborrecido até à náusea, performances fúteis, um ensaio que não se transcende. Acredito na boa intenção do Sant, mas a concretização, até por esse carácter de improviso, é má. O pior filme de Van Sant. No fim bocejei, depois de ter pensado muitas vezes ao longo dele «estou a ver esta trampa para quê?»

Tens muito para digerir, inclusive nesta década, ;)

Unknown disse...

Onde se arranja? One Thousand Movies?

Álvaro Martins disse...

Não. Tem que ser por torrent, há por aí uma versão, ou por rapidshares no surrealmoviez.

Unknown disse...

Ok, obrigado.

Mas aposto que se pedir o filme ao Chico ele mo arranja em dois tempos :)

Unknown disse...

Outra coisa Renato: ainda não me registei no surrealmoviez, vale mesmo a pena? Em que formato são os filmes? Costumam ter legendas em pt?

Álvaro Martins disse...

Força, pede-lhe o filme. Eu pedi-lhe o último do Dumont que não consigo arranjá-lo em lugar nenhum óu o último do Cédric Kahn.

Quanto ao Surrealmoviez eu acho que vale mesmo a pena. Encontras lá de tudo e é mais como escapatória, se não arranjas em mais lado nenhum vais ali, percebes? São em avi, mas legendas em português é muito raro. Têm de se procurar por aí, open subtitles e afins.

PS: não te enganaste no nome?

Unknown disse...

Claro que me enganei no nome, Álvaro ;) Não sei onde tinha a cabeça.

Obrigado pelas dicas. Vou registar-me no site e lançar-me à prospecção de pérolas de cinema ;)

Álvaro Martins disse...

Não faz mal :)
Isso, regista-te. Se tiveres dúvidas e eu te puder ajudar é só dizer ;)

Flávio Gonçalves disse...

Um filme de terror nada convencional. Aliás, nem é de terror, é afastado de tudo o que é género. É afastado de tudo. Na primeira hora e meia, duas personagens, que se mantêm desconhecidas entre si e para o espectador, viajam por Twentynine Palms, falando ora francês ora inglês. Fazendo sexo por tudo o que é sítio e amando-se e odiando-se. Mas sobrevivendo juntos. Até a Morte, contra a qual lutavam juntos, os surpreender - com um cão, que acaba por sobreviver, com o homem, que acaba por sobreviver, com a mulher, que acaba por se restar morta num sítio que tentou sempre fugir. Muito bom.

Unknown disse...

Acabei de ver este filme. Grande murro no estômago! Gostei muito. Dumont é um cineasta a descobrir urgentemente.

Unknown disse...

O final é mesmo brutal e desesperante.

Álvaro Martins disse...

Sim Victor, o final é muito brutal, frio e cruel. Deixa um gajo KO mesmo. O L'Humanité também é muito bom e o Flandres igual. Dumont é um cineasta muito frio, com uma linguagem cinematográfica própria.