28 de junho de 2011

The Treasure of the Sierra Madre (1948)
John Huston

The Treasure of the Sierra Madre é tudo mas tudo o que o cinema da actual Hollywood não consegue fazer, é tudo aquilo que foi desvirtuado pela maioria da mediocridade da nata hollywoodesca, coisa implacável, feita de quimeras que o vento levará, negro como a alma dos gananciosos, dos corrompidos, a esses nada restará, nem a vida, só a demência e a morte dos risíveis, o destino que o velho Howard lhes acautela antes da ida em busca do ouro, “Sei o que o ouro faz às almas dos homens” diz-lhe a Dobbs, ele sabe-o tão bem quanto Deus que a inevitabilidade da ganância é perigosa, fatal, inglória, que o ouro que perseguem na esperança dum futuro radioso e os planos e mais planos vindouros tudo isso se quedará na mais breve erupção da demência humana, tudo se desvanecerá na ganância de quem tudo quer. Dobbs, sobretudo ele, esse homem que antes era tão íntegro, tão humano e tão cheio de companheirismo que, nem quando forçado a mendigar ou quando explorado por aquele construtor sem escrúpulos se corrompe, seria ele o primeiro a refutar qualquer futuro acto ganancioso numa (ainda) imaginável caça ao tesouro “Não seria assim comigo. Juro que não. Só ficava com o que tinha ido buscar. Ainda que houvessem $500.000...”. Mas será ele o corrompido, sim, será o ouro a encarregar-se dessa mutação, nada o poderá reverter. Desde o inicio que é ele o conspurcado, o filho da cegueira de quem tudo e nada vê mas na qual só a ausência de Howard lhe torna possível a sua comutação, o justo que se torna injusto, o corrompido da alma. É ele que mergulha nas trevas da desconfiança, das traições fantasiáveis e da mesquinhez gananciosa, na maldição do ouro que tanto menosprezou, é ele que as traz, às trevas e à negrura do mundo e da alma dos homens para os assombrar a todos, a ele principalmente que tudo faz para se embrenhar nelas. Nada disto é possível nos dias de hoje, não há nem se voltarão a fazer filmes assim em Hollywood, grandiosos, monumentais.

8 comentários:

Sam disse...

Bonita analogia entre o filme e o estado actual de Hollywood.

Gostei muito.

Álvaro Martins disse...

Obrigado :)

Diogo disse...

Ola Alvaro. Não sei se te lembras de mim mas mandaste me, muito amavelmente, um convite para o KG. Ja fiz la uns downloads mas esqueci-me de fazer "seedar", recebi um aviso e desde aí que deixei para seedar os únicos dois filmes que tinha tirado de lá, o Le Samourai e o Week end, o problema é que ja estão à uma semana e ainda não têm rácio nenhum... agora estou proibido de usar o site até ter o racio minimo e nao sei como o fazer. Se tivesses alguma ideia do que pudesse fazer era de valor.

Obrigado, e desde de já bela crítica tenho muita curiosidade em ver este Huston

Álvaro Martins disse...

Boas Diogo,

antes de mais obrigado. Quanto ao outro assunto, talvez seja melhor falarmos por mail.

Jorge Teixeira disse...

Grande análise e grande filme. Bogart está enorme também.

abraço

Álvaro Martins disse...

Obrigado Jorge. Sim Bogart e Walter Huston, grandes interpretações indubitavelmente.

Duarte Alves disse...

Boa análise. O filme chamou-me a atenção por ser um dos preferidos de Woody Allen (que sou grande fã). Um western mais sociológico.

Abraço

http://www.comfortamblynumb.blogspot.com/

Álvaro Martins disse...

Obrigado Duarte.