11 de outubro de 2025

 


Garasu no Jonî: Yajû no yô ni miete, 1962, Koreyoshi Kurahara 

    | o trauma em busca de salvação; belíssimo |

 

















Onna no issho (1962, Yasuzô Masumura) 


em a vida de uma mulher, soberbo masumura que em todo o seu anti-militarismo mergulha nas sombras do fantasmagorismo, a casa que acolhe kei é na sua inevitabilidade a causa fatídica do seu destino, as escolhas altruístas determinam isso, na frieza se banha kei em perseguição do cumprimento duma promessa, mas mais que isso, na honrabilidade de a cumprir e na gratidão sentida pelo acolhimento; no entanto, é logo naquela passagem para dentro dessa casa tão abastada quanto expansionista e quanto maldita, que a negrura e o fatalismo se instalam para in loco se desdobrar a ascensão e a ruína de uma órfã acolhida; masumura, naquilo que eu conheço dele, nunca me pareceu estar a este nível, analisa não só o expansionismo/militarismo japonês ao longo de quatro décadas, assim como coerentemente embarca na feitura duma personagem que, na sua obstinação pela lealdade a quem a acolheu, cria a sua persona banhada não só na frieza como no sombrio metodismo que a leva a fazer todas as escolhas contrárias ao "coração"; soberbo

 

















sirât é, mais ou menos, tipo aquelas equipas que jogam quarenta e cinco minutos a mil à hora (os tais do paraíso) e os outros quarenta e cinco a dez à hora (os do inferno); o problema é que laxe abusa no inferno, roça o risível e envereda pelo desnecessário (e atrevia-me até a dizer grotesco), quando após a morte do puto se inicia essa incursão pelo hades marroquino; se há coisas interessantes em sirât? claro que há, a crítica ao mundo moderno é interessante, além da alienação inerente, mas o formalismo com que o filme inicia, a partir de certa altura (e isto ainda bem antes do primeiro fatalismo) dá lugar a um maneirismo que usa e abusa de certos artifícios, o maior deles a música; resumindo, é muito fraquito

 
Sirât, 2025, Oliver Laxe










Watashi Ga Suteta Onna (1969, Kirio Urayama) 


















 a dada altura de jochukko (o menino e a ama), singelo filme de tomotaka tasaka, ama e menino sobem a uma árvore (na imagem que acompanha este post) para ver os comboios que atravessam aquele japão do pós-guerra; aí, nessa cena que determina não só a solidez do relacionamento ama/jovem mestre, como enceta uma análise que perfaz todo o filme na qual se desenvolve a teoria educacional, jochukko opõe o enfrentamento e a autoridade paternal à compassividade e à compreensão da ama para com aquele menino mimado e irascível; ainda que tasaka nos leve pelos meandros do contraste entre urbano/rural, explorando os seus antagonismos, é na singeleza e no lirismo da sua narrativa, com rasgos ozuianos, que jochukko atinge o sublime; maravilhoso

1955, Jochukko, Tomotaka Tasaka 




















Bushidô muzan (1960, Eitarô Morikawa)

em a tragédia de bushidô está presente todo o esplendor do virtuosismo da mise-en-scène que a nouvelle vague japonesa trouxe ao mundo; a única obra de morikawa em nada fica a dever esteticamente a um yoshida, a um jissôji ou a um suzuki; depois, se em bushidô muzan se corrói o código de honra, ou se essa corrosão se estende às normativas sociais de uma sociedade feudal e guerreira, onde a crueldade e a desvalorização da vida é suprema (ou pelo menos é preterida pelas normas e por esse código de honra), o que na sua base narrativa e temática temos é a sua vitalidade shakesperiana como fio condutor e caracterizador em si; soberbo

 

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