25 de abril de 2017
Três filmes de Mizoguchi vistos ultimamente, três assombrações em mim (não é de agora o meu fascínio pelo japonês), A Geisha, Cinco Mulheres à Volta de Utamaro e Miyamoto Musashi, este último pareceu-me o mais fraco. Mizoguchi (e só a Ozu entrego mais apaixonadamente o meu fascínio e o meu “coração”) carrega consigo a tenebrosidade e a ruína da alma humana… a tragédia. Todos os seus filmes percorrem o lado obscuro disso, além de toda a matéria social e de classes, além de toda a comunhão com o naturalismo… Mizoguchi nesse sentido é muito mais espiritualista que Ozu, muito mais ligado ao fantasmagórico, às sombras e a tudo o que elas significam… assombrações permanentes e continuas do espaço e do tempo, a matéria da alma humana e o seu obscurantismo, a forma disso tudo… há em Mizoguchi qualquer coisa tão desmesuradamente tenebrosa que faz com que toda a matéria quer social quer política que se encontra nos seus filmes, transcenda para o imaterial, para o ascético ou tudo aquilo que isso possa representar. A mulher e a sua condição social é realmente o tema incidente e preferido de Mizoguchi, mas o mais profundo em todo o seu cinema é o seu sentido poético, é a tal tenebrosidade, a fantasmagoria e a tragédia (que sim, vem das tragédias gregas) que percorre e inunda o seu cinema, é o conflito interior das suas personagens, as escolhas e o caminho percorrido por elas… é isso tudo que emerge e se transcende numa espiritualidade e num obscurantismo da alma humana. Depois,… depois temos aquilo que Paulo Rocha falava e admirava em Mizoguchi e tanto ele como Pedro Costa tanto foram “beber” para os seus filmes, temos a natureza, temos a sua ligação (do Homem, do japonês principalmente) com o chão (coisa que me parece que Ozu explorou mais e ao qual foi mais “fiel”), um sentido muito forte da natureza com o ser humano…
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