Nikita Mikhalkov
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Mas Urga emerge na disparidade entre os rituais de tal primitivismo em que Gombo e a sua família vivem (se bem que primitivismo será uma palavra forte demais, talvez costumes tradicionais se adeqúe melhor) e os sinais do mundo moderno que emite (o boné do filho, o poster do vizinho, o aparecimento de Sergei que resulta da chegada das construções rodoviárias, posteriormente a televisão, os preservativos e a bicicleta). O que Mikhalkov nos mostra são esses ritos em que aquela etnia subsiste (e aqui, aliado à sua beleza paisagística, lembrei-me de Tulpan que vi há dias), é o valor que a natureza adquire aqui, é o humanismo daquele primitivismo. Porque Sergei reconhece o bem que Gombo lhe fizera (e é grato por isso). Porque o russo descobre que ali está longe da falsidade humana, ali está perto duma candura rara, duma ingenuidade própria de quem é alheio ao desenvolvimento social e civilizacional. O humanismo. E aí dá-se o confronto de culturas (que atinge o seu auge quando Gombo vai à cidade) e o início de uma amizade. Mas acima de tudo, dá-se a descoberta da civilização por parte de Gombo, dá-se a colmatação do desconhecimento e a aceitação de alguns bens afectos a essa modernização (a televisão e a bicicleta). Dá-se o progresso (por pouco que seja e embora se continue mergulhado nos ritos mongóis) naquela família. E a beleza do espaço, a beleza dos enquadramentos, a mise-en-scène de Mikhalkov.
1 comentário:
Álvaro gostei muito do filme e achei seu texto ótimo.
O filme nos trás uma inocência, uma paz em meio às perturbações humanas. Não é mesmo possível ficarmos parados no tempo.
Paz.
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