28 de dezembro de 2009

Kikujirô No Natsu (1999)

Um filme de Takeshi Kitano





Kikujirô No Natsu (O Verão de Kikujiro) é o terceiro de três filmes seguidos de Kitano que, quanto a mim, compõem as melhores obras do cineasta nipónico. Kizzu Ritân (Os Rapazes Regressam) e Hana-bi (Fogo de Artifício) são os outros dois filmes que completam o trio. E porque é que digo isto? O cinema de Kitano antes de Kizzu Ritân envereda particularmente na violência. É um cinema com uma visão mais cruel, mais pessimista de Takeshi Kitano. É essencialmente um cinema de acção. Mas Kizzu Ritân marca a mudança de Kitano, a procura do japonês em humanizar o seu cinema. A partir daqui Kitano deixa de centrar a obra na violência e procura criar histórias mais emotivas, procura dignificar valores morais e éticos. E aquele que mais salta à vista e que Kitano incide nestas três obras de que falo é a amizade. E aqui Kitano traz a amizade entre um homem e uma criança. Já Tarkovsky o fez antes no Katok i Skripka. Mas Kitano distancia-se de Tarkovsky. Nada a ver. Kitano é rude, cru, simples. É um cinema fresco mas menos energético no “pós-Kizzu Ritân”. Kikujirô No Natsu é antes de mais um road movie sobre a amizade, sobre a esperança. Kitano parte em busca do público, da emoção. É simples. Mas Kitano filma para não aborrecer, cria momentos cómicos desde os seus primeiros filmes. E aí está mais uma marca de Kitano, a procura do insólito a determinada altura da fita. E essa procura vemo-la em quase todos os seus filmes. O ridículo, o cómico, por vezes até o non-sense. E isso funciona como catarse, como mudança ou intervalo no desenvolvimento da narrativa do filme. E aligeira a obra. Mas Hana-bi é o melhor dos três, mais maduro, menos preocupado na aceitação do público, mais Kitano por assim dizer. Na verdade, Kitano é o Ferrara japonês. Pela violência, pelo pessimismo, sobretudo pela procura da denúncia social, da podridão social. E Hana-bi lembra sem dúvida Bad Lieutenant. Mas Kikujirô No Natsu é sobretudo uma comédia. Uma comédia a enaltecer a amizade, os laços que se criam entre um homem e uma criança. E a procura paternal está lá. Mas Peckinpah continua no cinema de Kitano. A violência está lá na mesma, mas mais dissimulada, nas costas dessa ternura que o cineasta japonês procura evidenciar. Kikujirô No Natsu é talvez o pior dos três de que falo mas não deixa de ser um grande filme. Uma fábula de amizade e tolerância, de determinação e de afecto. Kitano na procura de enriquecer o seu cinema.

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