23 de maio de 2018


Zhantai (Plataforma) é talvez, a meu ver e daquilo que até hoje vi de Jia Zhang-ke, o seu melhor filme. A palavra que me parece melhor para descrever Zhantai é melancolia, coisa que irrompe e abraça todos aqueles jovens que testemunham e protagonizam uma mudança cultural e socioeconómica da China dos finais dos anos 70 e inícios de 80. É indiscutível o teor político do filme, a principal preocupação do cineasta chinês é retractar essa mudança – e o que vemos é um pouco como Ozu fazia, detalhando a oposição do “velho” face ao “novo”. As mudanças chegam, a ocidentalização e o consumismo começam a “invadir” aquela China Maoista que, no começo do filme, ainda nos é perceptível. A pouco e pouco o individuo substitui o colectivo.
A história de Zhantai traz-nos um grupo de jovens, todos eles a atravessar essa transformação social e individual, pertencentes a um grupo de teatro que com o tempo – e o tempo e a sua passagem são também muito importantes neste filme – se vai desmembrando e transformando (e deve-se à privatização e à iminente chegada do capitalismo) numa liberalização individual na procura dos novos ideais. Jia Zhang-ke, e voltando à melancolia, filma aqueles jovens imersos nessa mudança social e cultural (a chegada da música pop e rock, as calças à boca de sino, os filmes americanos, os penteados ocidentais, os contraceptivos, as raparigas começam a fumar, a vida privada começa a ser realmente privada…), mas envoltos na melancolia e numa certa nostalgia que caminha lado a lado com a passagem do tempo e com as transformações políticas e sociais que trazem àquela juventude uma indefinição pessoal (como a certa altura se pergunta a um deles o que daqui a 20 anos seria).
Zhantai é um poderoso e monumental “documento” sobre a revolução (ou a nova revolução) da China actual, os primeiros “passos” daquilo que viria a ser hoje, a China capitalista, consumista e individual que substituiu a China colectiva de Mao.

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