21 de junho de 2012


O neo-realismo de Tarr

Colheita dos primórdios de Tarr (primeira longa-metragem), “Családi Tüzfészek” é coisa neo-realista que finda numa mescla ficcional com o documental ou apenas com a ausência narrativa. Longe dos travellings, dos rodopios, dos planos-sequência, do tempo como complementação ao espaço e ao objecto, “Családi Tüzfészek” busca por um clamor indignado numa Hungria comunista decadente quer moral quer social quer economicamente. Num filme onde se aposta nos diálogos e no tom de realismo social e político, Tarr estava ainda longe da minuciosidade e do caos psicológico que delega o seu cinema desde “Öszi Almanach”. Aqui é tudo agreste, seco e directo, coisa que aproveita o preto e branco para desvanecer aquela Hungria e expor a decadência social, raccords e découpages cruas e bravias a disseminar o caos social em que aquela gente está mergulhada, a câmara próxima das personagens em constantes close-ups lá dentro deles daquele mundo de ruínas e de degradações em que tem naquela casa a sua principal metáfora, é tudo amoral e assente na falácia do “faz o que eu digo não faças o que eu faço” ou coisa assim, brutalidade dum submundo onde reina a discórdia, o rancor, a sordidez e a mentira... “Családi Tüzfészek” é coisa fria e política, coisa que busca por um tipo de claustrofobia social (e por isso a maior parte do filme se passa lá dentro da casa) que abraça o caos e o desespero e a miséria. É tudo cheio de futilidades, de hipocrisias e de falsas moralidades, mundo de promiscuidades e indignidades… é o espelho duma nação… é o realismo de Tarr a verter e a expor toda a decadência social e moral da Hungria comunista dos anos setenta.

4 comentários:

O Provedor disse...

Ninguám mais filma a dureza e o sofrimento como o faz Bela Tarr. Ansioso pra ver o Cavalo de Turim.

Cumps

O Narrador Subjectivo disse...

Este nunca vi, mas acho que se pode dizer o mesmo de The Prefab People. No entanto, prefiro o estilo mais recente. E tu? Cumprimentos.

Álvaro Martins disse...

E eu ainda não vi o Prefab People eheh também prefiro o Tarr do Karhozat e Sátántangó e por aí fora...

Álvaro Martins disse...

Provedor, o Cavalo de Turim é brutal e quanto a mim está para o Tarr como o Offret está para o Tarkovsky.