18 de junho de 2012


Pouco mais de uma hora bastou para Borzage contar a trágica história de amor de “A Farewell to Arms” do Hemingway decorrida na primeira guerra mundial, coisa que verte, como em tudo o que de Borzage já vi, um lirismo romântico espiritual, angelical, acorrentado à fé, ao arrebatamento do amor, a toda a efervescência dele… coisa, portanto, distante do de Murnau que nasce das sombras e das trevas. Em Borzage é tudo cristalino, pleno de candura e de esperança, mesmo que seja preciso enfrentar “meio mundo”, mesmo que as pernas se recusem a andar, ir à guerra e voltar, fatalidades e fatalidades e mais fatalidades, guerras e discórdias e invejas, ocultações e devoluções de cartas… mesmo assim no cinema de Borzage dá-se o triunfo do amor, o romantismo absoluto e grandioso, a fé no amor e na bondade… fé nos homens. Nada de finais felizes, ainda que os haja nalguns (“7th Heaven” ou “Lucky Star”), mas nada do que isso possa exprimir, que tudo fica bem ainda que vá ficando, porque em “A Farewell to Arms” nada fica bem, ainda que consiga, e vagando por terrenos trágicos e dalguma negrura, alcançar a redenção e a luz divina, ainda que o “irmão de guerra” no fim se redima depois das tais devoluções das cartas, ainda que a tragédia finalmente ocorra. O que fica bem, ou o que triunfa é o amor (em Borzage é sempre o amor) e pelo amor ou pela força do amor tudo vai ficar bem, mesmo que para isso e mais do que nunca (como na “Imperatriz…” de Mizoguchi) o “para além da morte” faça tanto sentido e impute tanto vigor ao amor. É a brutalidade do romantismo e de todo o seu lirismo.

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