De Palestijnen (1975, Johan van der Keuken)
das intermitências...
29 de junho de 2025
31 de maio de 2025
1978, Killer of sheep, Charles Burnett
| a alienação das ovelhas afro-americanas |
killer of sheep é coisa tão crua quanto melancólica; se há nesta obra-prima de charles burnett coisa que deva ser realçada é a melancolia da resignação que convive diariamente com o tédio e a irascibilidade contida (e controlada) das suas personagens; e se, aparentemente, não se passa nada em killer of sheep, ou se o seu neorrealismo apostado em dissecar a pobreza e a letargia daquelas “ovelhas” afro-americanas desagua no aparente “não se passa nada”, é-o superficialmente e para quem não consegue descortinar que ali se passa tudo o que burnett quer dissecar; assim, o que em killer of sheep poderia ser usado como manifesto político, é puramente social, numa clara alusão à alienação (até no sentido metafórico do título) daquela gente, bem como se afasta de qualquer romantização do objecto filmado; depois, aquela banda sonora é absolutamente maravilhosa!
28 de maio de 2025
1964, Nothing but a man, Michael Roemer
"It's just like a lynchin'. Maybe they don't use a knife on you, but they got other ways"
talvez, e este talvez tem muita força, a grande virtude de nothing but a man seja a forma como evita beatificar e diabolizar o negro e o branco respectivamente, conseguindo não só fugir ao sensacionalismo, como evitar a desmesurada dramatização da discriminação e do racismo; assim, mergulha na crueza da sua linguagem cinematográfica e narrativa para suster o ímpeto apelativo do oportunismo temático, nunca cedendo a histerismos ou a sentimentalismos bacocos; é, portanto, na sua crueza, que nothing but a man me lembra o wanda da loden, na mesma análise directa e crua, sem embelezamentos, daquela américa profunda, no sul, onde o preconceito e o racismo persistiram mais tempo; ironia das ironias, mas apenas à primeira vista, num filme onde o sul preconceituoso e palco “maior” da escravatura no seu tempo é tão bem descrito e retractado, o seja por um judeu e não por um negro – o que nos mostra que há mais em comum que distintamente;
nothing but a man, naquilo que ao seu sentido humanista reclama, combate até ao seu final pelo orgulho de um negro que entra em conflito com a estabilidade familiar, onde a resignação trará um futuro ainda que no seio da discriminação racial; aí, no seu direcionamento para a humanização da sociedade em si, mesmo a discriminatória, roemer distancia-se assim da violência (não foge, não a evita, apenas se distancia), tanto física como psicológica – e se ela se manifesta é a espaços e simbolicamente, como nos copos que se partem ou nas tensões criados nos confrontos; é, por isso, que nothing but a man é mais um estudo sociológico que um filme político, onde a carga emocional é gerida eximiamente e o racismo é preterido pela análise da sociedade em si, herdeira dos preconceitos e das regras discriminatórias que na época (obtenção da lei dos direitos civis, prémio nobel da paz a martin luther king, etc) sofreriam um abalo social com as transformações que viriam; absoluto, obrigatório.
24 de maio de 2025
1991, Dyo ilioi ston ourano, Yiorgos Stamboulopoulos
Em dyo ilioi ston ourano do grego yiorgos stamboulopoulos, safra de 91, existe a genialidade de criar a aspereza, a crueza e a rudeza necessárias para ambientar um filme histórico empenhado no retratamento do choque religioso e cultural do paganismo vs cristianismo; tratando de reinos longínquos no tempo, nos seus primeiros séculos cristiânicos - capadócia, antioquia, cilícia -, dyo ilioi.. conta-nos a história de lazaros da capadócia, homem da igreja que obstinado empreende o combate e a perseguição a timotheos, o actor, que é uma espécie de profeta (cultuado desde criança como um semideus) do paganismo - retractado quase como um cristo pagão; lembrando pasolini e o seu medea, stamboulopoulos consegue imprimir um certo cunho rudimentar em toda a ritualistica presente quer nos cultos a dionísio (sobretudo as bacantes) como a cibele; é aí, nos ritos e no choque entre paganismo/cristianismo que dyo ilioi... se expande, no obscurantismo presente tanto numa como noutra; na sua forma, o filme de stamboulopoulos é soberbo, embarca numa parca iluminação nos interiores, românizada, aludindo não só ao obscurantismo das religiosidade como ao período em questão (meados do primeiro milénio), a crueza e a aspereza já mencionadas acentuam o formalismo que se complementa não só na linguagem narrativa como em toda a sua cinematografia; monumental
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Qual o melhor filme de Hitchcock? Estou dividido entre o Rear Window e o Spellbound .