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15 de março de 2010

Sweet Sixteen (2002)










E por falar em melhor do Loach lembrei-me do Sweet Sixteen. Esse sim, mais maduro, mais cru, mais ao seu estilo. Essencialmente, mais neo-realista. Filme do caralho, literalmente. Aquela família é o espelho da pobreza, a reflexão à marginalidade, à disfuncionalidade, aos perigos da delinquência. A rebeldia, as escolhas, a falta de afecto, de um modelo a seguir. A educação (ou a falta dela), a crítica social sempre, a veia política. E humano tanto quanto o pode ser. Este sim, é um Loach melhor.

Looking For Eric (2009)











Looking For Eric é uma comédia, ou melhor, nem é bem uma comédia, vai desde a comédia ligeira ao sentimentalismo. Mas sobretudo é um filme sobre a redenção, sobre o recomeço. Looking For Eric é um filme esperançoso, anti-depressivo, crente. Gostei. Gostei do tom cómico do filme, gostei da simplicidade, gostei da ligeireza do filme. Porque o filme é sobretudo inteligente. Gosto essencialmente da maneira como Loach trata o ser humano, da forma como o desenvolve e o descreve. A simplicidade da vida. Gostei, mas Loach já fez melhor, muito melhor.

19 de maio de 2009

Estreou Looking for Eric em Cannes

"Looking for Eric", o mais recente trabalho de Ken Loach, realizador britânico pelo qual nutro grande admiração, foi ontem apresentado em Cannes.

Vasco Câmara, crítico e enviado do Público a Cannes dizia assim: "Cantona é Cantona em Looking for Eric: um anjo da guarda que se materializa a um fã charrado e a quem vai servir de personal trainer existencial. (...) Ao longo do filme há duas ou três sessões de charros e de aconselhamento e auto-confiança. O resto é a relojoaria habitual de Loach, gente com problemas, meio proletário, só que desta vez em registo feel good movie.
O realizador defende que "uma comédia é uma tragédia com happy ending", e admite que quis, depois de uma série de obras "duras", fazer algo que pusesse "um sorriso na cara das pessoas". "

Sendo assim, parece-me que teremos aqui um filme bem diferente daquilo a que Ken Loach nos habituou. Eu gosto da "relojoaria habitual de Loach", por isso não sei se irei gostar tanto deste "Looking for Eric".

17 de maio de 2009

Kes (1969)

Um filme de Ken Loach
















“Kes” foi um murro no estômago, uma lufada de ar fresco no cinema dos anos 60. Ken Loach é um cineasta que admiro e muito. Ele já demonstrou que sabe o que faz e o que quer fazer. É político, crítico, denunciador de uma sociedade podre e decadente num país não diria negro, mas cinzento. Aqui, Ken Loach debruça-se sobre a infância, a ausência de afecto paternal/maternal, a educação e a falta desta, a impaciência dos professores, enfim, o cineasta reflecte duramente numa questão sociopolítica dum país em decadência. David Bradley é completamente brilhante no papel de Billy, o rapaz problemático que vive com a mãe divorciada e ausente, e o irmão que o maltrata e despreza. Este é o ambiente familiar de Billy, degradante, deprimente e próprio de uma família disfuncional. Billy é nos apresentado como um rapaz inócuo, perdido na sua condição familiar e educacional. O seu talento está escondido. É revelado quando se interessa por falcões. Kes é o nome do falcão que ele vai treinar, ele vai entregar-se com muita dedicação a um estudo (mal sabe ler mas rouba um livro sobre falcões e aprende como treiná-los) e prática diária para o treinar. A sua relação com o animal vai muito mais além do simples afecto doméstico. Ela atinge o respeito, a admiração. E aqui podemos fazer um termo de comparação entre Billy e Kes ao referir a palavra selvagem. Porque realmente os dois são selvagens, no caso de Billy falamos de um interior selvagem, uma liberdade procurada que o faz fugir a todo o meio em que está inserido, quer familiar quer escolar, essa ansiedade em libertar-se de tal condição e esse respeito pelo animal que ele adquire. Billy revê-se em Kes, ele identifica-se com o falcão e esse respeito, esse fascínio de Billy por Kes advém daí.

O filme tem duas cenas fabulosas, de génio e que ilustram de forma magnífica, respectivamente, a estupidez e a inteligência de um professor em lidar com crianças que não revelam interesse de estudo. A primeira cena traz-nos um professor de educação física que é do mais néscio e ignorante que pode existir. Um professor fanático por futebol e o seu Manchester United, que abusa do seu poder, que maltrata os alunos e que tudo o que faz é jogar futebol com eles conforme lhe convém. Além de ser uma cena bastante caricata é uma crítica ao sistema educacional da época nas pequenas localidades da Inglaterra. A segunda cena oferece-nos o poder de compreender uma criança, a visão de Ken Loach de como lidar com uma criança problemática, tímida na comunicação relativamente aos seus interesses e aparentemente apática, derrotada por uma sociedade cruel. Nesta cena, Loach mostra a habilidade de um professor em conseguir “soltar” uma criança. A forma de o fazer revelar os seus gostos, aquilo que realmente lhe interessa e o fascina. De facto, nem só de crítica vive “Kes”. Ken Loach não é de todo pessimista e no meio de todo este panorama sociopolítico deformado ele encontra alguém que traz esperança, como é o caso deste professor.
Ken Loach mostrava já indícios do seu cinema naturalista e cru nesta sua segunda obra. “Kes” é um drama sociopolítico cru e duro que emociona. Magnífico.