2020, Février, Kamen Kalev
2016, Bezbog, Ralitza Petrova
Noite passada dois filmes búlgaros vistos, coisas antagónicas mas ambas coisas existenciais.
No primeiro, Février, acompanhamos o percurso dum homem, pastor por herança e por convicção, desde a infância até à velhice. Particularmente, é filme que me agrada, na condução narrativa e na veia contemplativa que assume. Moroso e impoluto na sua fotografia, é no entanto coisa que se cola demasiado às suas influências, nomeadamente Angelopoulos e o aclamado Tarkovsky. Dividido em três partes, fases da vida, principiamos pela infância onde com o avô aprende a ser pastor, continuamos na segunda, instrução militar, e finalizamos no fim dos dias (ou o caminhar para eles). Na instrução militar achei particularmente piada à cena em que o capitão lhe pergunta se lá na terra dele eram todos assim tão primitivos, para depois, de noite, à luz da fogueira e ao som duma viola, este tirar a pistola e matar as gaivotas que abundam por ali. Questões do primitivismo!...
O segundo, Bezbog, é coisa mais corrosiva, psicológica e negra. Principia na tragédia (ou no seio da barbárie) para logo percebermos que se trata do final. Ali, ao invés de primitivismo e abnegação, somos confrontados com a frieza, com a luta interior e com depressão que assola a protagonista. Aos poucos revela-se-nos a causa e as justificações das suas escolhas - o passado -, as feridas que ainda não sararam e que a impedem, como confessa desabafando com a mãe (que funciona ali até certo ponto como um espelho dela), de amar. Imersa num mundo de depravação e de corrupção, no entanto, ainda resta a consciência e a constatação de que as escolhas não revelam a fonte e o verdadeiro ser. Muito bom!
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