26 de abril de 2022
12 de abril de 2022
2020, Février, Kamen Kalev
2016, Bezbog, Ralitza Petrova
Noite passada dois filmes búlgaros vistos, coisas antagónicas mas ambas coisas existenciais.
No primeiro, Février, acompanhamos o percurso dum homem, pastor por herança e por convicção, desde a infância até à velhice. Particularmente, é filme que me agrada, na condução narrativa e na veia contemplativa que assume. Moroso e impoluto na sua fotografia, é no entanto coisa que se cola demasiado às suas influências, nomeadamente Angelopoulos e o aclamado Tarkovsky. Dividido em três partes, fases da vida, principiamos pela infância onde com o avô aprende a ser pastor, continuamos na segunda, instrução militar, e finalizamos no fim dos dias (ou o caminhar para eles). Na instrução militar achei particularmente piada à cena em que o capitão lhe pergunta se lá na terra dele eram todos assim tão primitivos, para depois, de noite, à luz da fogueira e ao som duma viola, este tirar a pistola e matar as gaivotas que abundam por ali. Questões do primitivismo!...
O segundo, Bezbog, é coisa mais corrosiva, psicológica e negra. Principia na tragédia (ou no seio da barbárie) para logo percebermos que se trata do final. Ali, ao invés de primitivismo e abnegação, somos confrontados com a frieza, com a luta interior e com depressão que assola a protagonista. Aos poucos revela-se-nos a causa e as justificações das suas escolhas - o passado -, as feridas que ainda não sararam e que a impedem, como confessa desabafando com a mãe (que funciona ali até certo ponto como um espelho dela), de amar. Imersa num mundo de depravação e de corrupção, no entanto, ainda resta a consciência e a constatação de que as escolhas não revelam a fonte e o verdadeiro ser. Muito bom!
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