6 de março de 2020


(2019) Honeyland, Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov


Sobre Honeyland, talvez o filme mais notável que vi nos últimos dias (num âmbito geral e não pessoal [aí o Woman in the dunes do Teshigahara e o Ash is the purest white do Zhangke prevalevem]), só duas ou três coisinhas acerca daquilo que o filme me pareceu:

Longe da perfeição, num filme que deambula entre o documental e a ficção - é precisamente aí que lhe encontro a maior fraqueza (onde outros provavelmente lhe encontrarão o oposto) -, numa procura incessante (distanciando-se assim dum Wiseman ou um Bing ou um Loznitsa, mas procurando [ainda que permaneça longe, muito longe] “seguir” pegadas tanto “ancestrais” [Flaherty à cabeça, Rouch…] como “contemporâneas [lembro-me de Bing e das suas percussões similares como A Fossa ou As três irmãs] - e falo na procura da forma ou da narrativa e não da temática, obviamente -) dum enredo ficcional ou que “prenda” o espectador. Ainda assim, a Honeyland atribua-se-lhe a singeleza e a simplicidade e o intimismo da história, a fuga aos clichés narrativos e gráficos nessa constante (ainda que viva lado a lado com a procura do enredo e de uma certa forma de “romancear” o filme e, portanto, longe dum Alonso e do seu La Libertad ou dum Bartas e do seu Few of Us) procura de filmar os passos daquela mulher e da sua rotina diária, a humanização das suas personagens e do mundo/natureza numa esperança luminosa e radiosa (e o amarelo simboliza isso mesmo) ainda que a ganância e a malicia vivam ali ao lado (numa certa metáfora sobre a integridade urgente que o ser humano precisa compreender e aceitar na sua relação com o mundo e tudo que o compõe) e onde a resignação dá lugar à aceitação.

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