Shan he gu ren ou Se as Montanhas se Afastam de Jia Zhang-ke é um filme de escolhas e das consequências dessas escolhas (ou do rumo que a vida segue devido a essas escolhas) personificando muito mais que isso. Se em Zhantai identificávamos facilmente a veia melancólica e uma certa nostalgia, aqui pareceu-me que Jia Zhang-ke vai mais longe e faz um filme-lamento… ainda que esteja lá a melancolia bem vincada, parece-me que o cineasta chinês faz um filme triste, de lamento pelo desenvolvimento económico e tudo o que isso acarreta. Jia é um cineasta que utiliza muito a música (e por música especifique-se as canções na rádio ou nos leitores de cassetes, etc) para criar esse ambiente melancólico (o que por vezes – e aqui neste filme em particular pois está-me mais fresco na memória – funciona bem e noutras não tão bem), e aqui, como em Plataforma, a canção principal (a Go West dos Pet Shop Boys) quer dizer tanto mas tanto… bem como a mudança de formato de imagem duns períodos temporais para os outros quer talvez simbolizar essa evolução (decadente) da China, assim como me parece associar quase sempre a melancolia às tais transformações sociais, culturais e económicas que a China atravessou desde os finais dos anos 70.
Existe aqui, ainda que um pouco à superfície, uma oposição – ou chamemos-lhe distinção – entre o rico e o pobre, entre o capitalista e o comuna. Shan he gu ren conta-nos a história de Tao (em mais uma grandiosa interpretação de Zhao Tao) e daqueles que a rodeiam em três diferentes períodos temporais (1999, 2014 e 2025), as suas escolhas e o rumo delas. Curiosamente, este Se as Montanhas se Afastam pode ser encarado quase como um filme-irmão de Zhantai, não só na tal melancolia como na reincidência de temas afectos ao cineasta e a estes dois filmes em questão, a tal transformação cultural que aqui assume maior gravidade com uma perda de identidade quer cultural quer social – o filho de Tao, no terceiro episódio ou terceiro período temporal (2025), além de ser chamado de Dollar só sabe falar inglês, impossibilitando a comunicabilidade com os “seus”, o que personifica bem essa perda de identidade. Talvez por isso me pareça que onde Zhantai ficou, Shan he gu ren continuou, ou seja, Plataforma ficou-se pela melancolia e pela nostalgia que as transformações estavam a trazer para se as Montanhas se Afastam prosseguir e “mostrar” o declínio social e cultural que esta moderna China capitalista abraçou.
Se as Montanhas se Afastam (2015) não é um Xiao Wu (1997) nem tampouco um Zhantai (2000), mas ainda assim é um grande filme dum dos melhores cineastas chineses contemporâneos e que faz (ou se não faz, deveria) inveja a muito aclamado cineasta por esse mundo fora.
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