Solidão…
É da solidão e talvez da mágoa e da amargura, não só dos caminhos como das escolhas da vida, que resulta uma certa empatia ou até cumplicidade do olhar, principalmente do olhar, daquelas personagens de “las acacias”, coisa que mais que um road-movie é uma road para o recomeço daqueles dois, coisa que nasce do (tal) olhar daquela bebé. Austera ou não, a viagem serve como contraponto não só para o olhar social de quem vai em busca de um futuro melhor mas para o tal olhar de quem descobre no outro um possível recomeço, coisa primordial que o filme quer transmitir, o ponto de partida para um hipotético recomeço. Não me parece que se fale ali de amor, ou que o haja, talvez de afecto que cresce com os tais olhares desconfiados que a pouco e pouco se vão desarmando e acalentando, começa na distância e na frieza para acabar na proximidade na ternura e na entreajuda, parece-me mais do desejo de fugir à solidão, do querer assentar, é o bebé que serve de veículo para esse aproximar, para o tal recomeço. Falo na solidão de ambos mas é a Rubén a quem ela mais pesa e assombra, o tal que não vê o filho à oito anos, ela é o lado oposto, é como se fosse um espectro da mãe do filho de Rubén, aquele olhar da bebé é como um pedido de protecção para Rubén, é o apelo que o olhar transmite, o desejo de lhe dar um pai, de o ser como o não foi para o seu filho, o tal recomeço, uma certa remissão ambicionada…
Realismo…
Distante do neo-realismo italiano ou do realismo dos Dardenne ou da nova vaga romena ou do grego Angelopoulos e sim próximo do seu compatriota Alonso onde se pretende registar o momento, simplicidade realista, Pablo Giorgelli em las acacias implode toda a desconfiança do ser humano no olhar de cada um deles, vai esmorecendo perante a liquidação da solidão vivida, busca-se por uma vida melhor mas aquilo que de imediato se encontra é o tal recomeço que renasce no olhar e nos pequenos gestos de Rubén que, mais que qualquer desejo carnal que possa possuir, é o olhar cândido e doce daquela bebé que o aquece e o desarma por dentro. Assim, o realismo, que envolto na lentidão e na simplicidade da narrativa, é tão seco quanto os verões mais secos do mundo e foge como o diabo foge da cruz do aspecto social (ainda que parta dele) para imergir no interior das suas personagens, pauta-se pelos gestos e pela jornada que parte da fronteira do Paraguai com destino a Buenos Aires e finda no apego e na compaixão e na reconstrução (ou na sua possibilidade) dum futuro radioso.
1 comentário:
isto ganhou qualquer coisa em cannes, tb gostei muito.
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