Seis meses após um incêndio devastar o celeiro da sua quinta e com ele levar a filha de cinco anos, Jean e Laure lutam, cada um à sua maneira, para enfrentar a realidade e as marcas que a perda deixou. Laure está alienada, amortecida no seu “mundo” como forma de fugir ao que aconteceu… Jean é quem tenta reconstruir o que se perdeu, retomar a vida e o funcionamento da quinta, é ele quem tenta “curar” as feridas dos dois, ultrapassar a dor e continuar a vida…
O filme de estreia do polaco Greg Zglinski, premiado inclusivamente em Veneza, é uma comovente e sensível história de amor e do poder do amor (quando é verdadeiro). Ainda que incorra em alguns clichés (que me parecem até incontornáveis para a própria história em questão), “Tout un hiver sans feu” de 2004, caminha e emerge na sobriedade e na lucidez dum cinema realista e existencialista preocupado com os conflitos interiores das suas personagens. Ali luta-se pela reconstrução e pela cura da dor da perda. Nisso, Zglinski faz um filme bastante intimista, onde progressivamente a implosão da dor se vai manifestando exteriormente por “vias” diferentes nos dois personagens desta história de perda e de reconstrução familiar.
O título do filme é a metáfora inicial para aquilo que ao longo de uma hora e pouco se atravessa na nossa vista, o gelo do inverno é o mesmo que se instalou naqueles dois corações após a perda da filha, e, esse inverno sem fogo do título é todo o processo que aquelas duas almas imersas na dor da perda vão atravessar na reconstrução e recuperação desse fogo, o amor (e porque “o amor é fogo que arde sem se ver”…). No final fica-nos a convicção de que o amor é o antídoto para a dor e que quando se ama verdadeiramente não há terceiros que possam extinguir esse amor! Agradável surpresa este “Tout un hiver sans feu”.