Também esse era um momento no qual Comolli tirou o manifesto do cinema pobre. Achas que é possível um cinema pobre? E também, seguindo por ali, que implica para o próprio cinema, como linguagem ou como produto, ser pobre? E que ganharia o cinema sendo pobre?
Pobre não é uma palavra boa. Eu sou mais como o meu amigo Straub que só fala do luxo e da riqueza. O cinema verdadeiramente luxuoso é o cinema que nós fazemos hoje em dia, não há qualquer dúvida sobre isso. O grande luxo sou eu. Eu faço exactamente o que quero com as pessoas com quem quero, com completa liberdade. Está implícito desde o princípio que não vamos comprar apartamentos, piscinas, carro, etc. Ninguém pensa nisso, não, não pensamos nisso. Pensamos em viver, continuar a viver é suficiente. Agora, em razão ao trabalho que fazemos, a absoluta liberdade é luxo, no sentido em que não nos sacrificamos com nada. É o que te digo, se nos sentimos indispostos, não filmamos; se nos sentimos deficientes dalguma maneira, se eu sinto que não tenho energia posso parar. E esse é um luxo que o cinema não tem, não pode parar. Eu acho que parar máquinas aí é um luxo. Porque, apesar de eu gostar muito que o cinema seja uma rotina, que continue o que já existiu, acho que quanto mais ele for próximo da vida das pessoas, do autocarro, do bus, sabes?, do trabalho humano, dos horários humanos, das estações do ano, das chuvas, do vento, etc., quanto mais próximo for disso, melhor ele será. Apesar de tudo, podemos para-lo quando quisermos e o cinema nunca pode parar, como os mercados, não? Não podem parar. E eu paro, eu paro. Eu posso não fazer um filme e não faço. A minha admiração se calhar por pessoas como o Erice ou outros é mais por não fazerem. O Erice, por exemplo, que tem a coragem de não fazer certos filmes. Ontem falava com ele sobre isso. E ele tem a coragem de não avançar para um filme que acha que já está feito, que não é preciso, que não é necessário, para o qual não tem a energia necessária, percebes? Isso é muito mais importante do que voltar a fazer No Quarto…
Pobre não é uma palavra boa. Eu sou mais como o meu amigo Straub que só fala do luxo e da riqueza. O cinema verdadeiramente luxuoso é o cinema que nós fazemos hoje em dia, não há qualquer dúvida sobre isso. O grande luxo sou eu. Eu faço exactamente o que quero com as pessoas com quem quero, com completa liberdade. Está implícito desde o princípio que não vamos comprar apartamentos, piscinas, carro, etc. Ninguém pensa nisso, não, não pensamos nisso. Pensamos em viver, continuar a viver é suficiente. Agora, em razão ao trabalho que fazemos, a absoluta liberdade é luxo, no sentido em que não nos sacrificamos com nada. É o que te digo, se nos sentimos indispostos, não filmamos; se nos sentimos deficientes dalguma maneira, se eu sinto que não tenho energia posso parar. E esse é um luxo que o cinema não tem, não pode parar. Eu acho que parar máquinas aí é um luxo. Porque, apesar de eu gostar muito que o cinema seja uma rotina, que continue o que já existiu, acho que quanto mais ele for próximo da vida das pessoas, do autocarro, do bus, sabes?, do trabalho humano, dos horários humanos, das estações do ano, das chuvas, do vento, etc., quanto mais próximo for disso, melhor ele será. Apesar de tudo, podemos para-lo quando quisermos e o cinema nunca pode parar, como os mercados, não? Não podem parar. E eu paro, eu paro. Eu posso não fazer um filme e não faço. A minha admiração se calhar por pessoas como o Erice ou outros é mais por não fazerem. O Erice, por exemplo, que tem a coragem de não fazer certos filmes. Ontem falava com ele sobre isso. E ele tem a coragem de não avançar para um filme que acha que já está feito, que não é preciso, que não é necessário, para o qual não tem a energia necessária, percebes? Isso é muito mais importante do que voltar a fazer No Quarto…
Pedro Costa