6 de junho de 2024

 






| 1957, Il grido, Michelangelo Antonioni | 


Ao rever il grido dou-me conta que é talvez o filme de antonioni (e ainda há filmes dele que não vi, nomeadamente os anteriores a este) que mais flerta com o neorealismo; não que isso seja muito relevante, até porque em antonioni isso não só é redutor como, digamo-lo, inexistente na sua generalidade - o papel que a análise sócio-económica assume no neorealismo italiano de de sica ou dos primeiros rossellinis, in veritas, nunca foi a preocupação nem a intenção de antonioni -, e em il grido, ainda que se nos apresente um operário, esse operário é nos apresentado em crise existencial derivado da marital, ou seja, aonde o carácter neorealista seria assumido antonioni foge a sete pés e atribui um teor individual e emocional habitualmente inexistente; o cinema de antonioni sempre esteve mais ligado ao existencialismo e ao psicologismo, a alienação das suas personagens sempre foi, justamente, reconhecida; em il grido, o vazio que irma deixa em aldo é determinante e sólido como uma rocha, e na sua busca (na de aldo) pelo preenchimento desse vazio nas mulheres que lhe vão aparecendo apenas se fortalece esse vazio, a deriva é lancinante e o vazio incomensurável, por isso o final trágico de quem não se conseguiu livrar desse vazio que o corrói por dentro... 










 | 1974, Les femmes palestiniennes, Jocelyne Saab | 



"Eles têm uma bandeira negra 
A meia haste pela esperança 
E a melancolia 
Para levar na vida." 
 
Léo Ferré (1916-1993)











| 2005, Mizu-no-hana, Yusuke Kinoshita | 


se há coisa que existe neste singelo filme é a ternura que se vai evadindo a espaços dos confins da melancolia de onde reside, atracada à mágoa e à carência afectiva maternal, é a alienação de quem lhe foi roubada a infância pelo abandono maternal; no entanto, o mais interessante em water flower é a fuga aos lugares-comuns e aos maneirismos e aos facilitismos narrativos que uma história deste teor poderiam sugerir, é o sentimentalismo que nunca resvala para o mel ou para o choradinho... 












 | 2023, Shashvi shashvi maq'vali, Elene Naveriani | 



«To transform the world, we must begin with ourselves; and what is important in beginning with ourselves is the intention. The intention must be to understand ourselves and not to leave it to others to transform themselves or to bring about a modified change through revolution, either of the left or the right. It is important to understand that is our responsability, yours and mine...» 

J. Krishnamurti (1895-1986)












 
| 1965, Mizu de kakareta monogatari, Yoshishige Yoshida |



 complexo de Édipo


antes da sua trilogia política, e de toda a grandiosidade que representa no cinema nipónico, já kiju yoshida trilhava auspiciosos e gloriosos caminhos; o que é brilhante no seu cinema, e este é o seu primeiro filme depois de abandonar os shochiku studio, é o radicalismo e o formalismo da sua mise-en-scène, já perfeitamente apurada aqui em a story written with water; num filme tão psicológico quanto "libertário", à semelhança de naruse ou de mizoguchi, Yoshida constrói o seu cinema em torno de um olhar na sexualidade feminina e seus desejos, na exploração da sua psique e da sua identidade;a story written with water é filme edipiano que lança teias incestuosas numa construção narrativa que oscila entre presente, passado e sonhos...











| 2019, Öndög, Wang Quan'an | 


"You must have chaos within you to give birth to a dancing star"

Friedrich Nietzsche (1844-1900)











| 1966, Cathy come home, Ken Loach |



«O Estado garante sempre o que quer: a uns, a riqueza, a outros, a pobreza; a uns, a liberdade assente na propriedade, a outros, a escravatura, consequência fatal da sua miséria; e obriga os miseráveis a trabalharem sempre e a matarem-se, para aumentarem e protegerem esta riqueza dos ricos, que é a causa da sua miséria e escravidão. Esta é a verdadeira natureza e missão do Estado.»

Mikhail Bakunin (1814-1876)










| 1990, Hidden agenda, Ken Loach | 



«Sem a justiça, com efeito, não serão os reinos apenas grandes bandos de bandidos? E o que é um bando de bandidos senão um pequeno reino? Porque é um grupo de homens em que um chefe comanda, em que um pacto social é reconhecido, em que certas convenções regem a partilha do saque. Se este bandido funesto, ao recrutar malfeitores, crescer ao ponto de ocupar um país, de estabelecer postos importantes, dominar cidades, subjugar povos, então arroga-se abertamente o título de reino, título que lhe assegura não a renúncia à cupidez, mas a conquista da impunidade.» 

Santo Agostinho (354-430), in 'A Cidade de Deus'

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